Literatura em pauta: censura geral e irrestrita

Já ensinou Emmanuel Marinho, que “poesia não compra sapato, mas como viver sem poesia”. Como viver sem literatura, seja ela técnica ou de outros variados gêneros?

Os estudantes de minha geração, os brasileiros que tiveram acesso à escola, liam muito. A literatura preenchia o espaço que a televisão nos roubou, nos enriquecia, nos ensinava a Língua Portuguesa sem que precisássemos nos debruçar tanto sobre as gramáticas, embora em nosso tempo elas ainda fossem muito mais prestigiadas. Interessante é que embora as gramáticas normativas tenham perdido espaço, a literatura não o preencheu, ao contrário, há uma progressiva regressão no consumo de livros no Brasil. Pesquisa do FECOMERCIO RJ apontou que 70% dos brasileiros não haviam lido um livro sequer em 2014.

Em entrevista de 2015 ao jornal Zero Hora, cartier fake cheap cartier fake cheap replica watches cartier replicaRegina Zilberman (UFRGS), explica que: “As consequências de ter uma população que não lê é que o Brasil apresenta muita dificuldade de discutir questões um pouco mais complexas. Todos os especialistas lembram, sem exceção, que o processo de leitura – de literatura, principalmente – estimula habilidades cognitivas. Sem elas, é difícil praticar ações como se colocar no lugar do outro, pensar em soluções criativas para problemas do dia a dia, ir a fundo em debates éticos, apresentar como argumento fatos de outras épocas e lugares. Em resumo, ao não ler, o Brasil se torna um país raso”.

Equivocam-se os que imaginam que a matemática desenvolve melhor o raciocínio do que a literatura. A leitura ilumina a imaginação; lendo, tornamo-nos mais reflexivos, aprendemos a entender o que se passa ao nosso redor e em torno do mundo. Como diz Paulo Coimbra Guedes (UFRGS), literatura não se trata apenas de boniteza, trata-se “de construir entendimento e convicções a respeito de nossa realidade interior e de nossa realidade social mais próxima”.

Sem leitura nos tornamos satisfeitos com a troca do carro, a compra da roupa nova, o capítulo da novela e consumimos as notícias como se ingeríssemos uma colher de xarope, sem a mínima possibilidade de avaliação crítica do que está sendo noticiado.

Em resumo, há os que se contentam em comprar o sapato, mas outros, aqueles que leem, além da compra, conhecem o processo de fabricação do sapato, desde o nascimento do bezerro, a recria, a engorda, o abate, a transformação do couro em calçado. Trata-se de um longo processo em que sempre há explorados e exploradores. O que distingue os que simplesmente compram e os que compram sabendo que não estão apenas comprando o sapato em si, mas todo um processo, é que aos primeiros falta consciência crítica, desconhecem o funcionamento do sistema político, econômico e social que nos domina e os últimos conseguem fazer uma leitura da realidade em que vivemos. Viver sem poesia, sem a literatura em geral, é viver sem enxergar, ou ter apenas e simplesmente uma visão fragmentada dos acontecimentos. Os sem leitura constituem o imenso exército de consciências ingênuas, de pessoas alienadas que não percebem que existe uma ideologia dominante que os cega. 

Já está se tornando praxe no Brasil assistirmos a golpes de estado que retiram as possibilidades de avanços sociais e culturais e que (re)conduzem a oligarquia ao poder. Foi assim em 1964, foi assim em 2016. As primeiras medidas dos governos golpistas em relação à cultura é retirar do currículo escolar disciplinas que levam à reflexão. Em 1964, História e Geografia transformaram-se em Estudos Sociais e a Sociologia e Filosofia, abolidas. Em 2016, por meio de uma absurda Medida Provisória, transformada em Lei na última quarta-feira, fez-se uma “reforma do ensino”, que possibilita a exclusão de Ciências Humanas do currículo, principalmente História. 

Em Mato Grosso do Sul, terra de Manoel de Barros e de centenas de escritores e compositores de cheap replica watches best replica watches cheap fake watches cheap replica watches primeira grandeza, o governo do estado, seguindo a mesma linha do federal, retirou a disciplina de Literatura do currículo do ensino médio, fundindo-a à disciplina de Língua Portuguesa. Isso não é por acaso, é censura geral imposta pela oligarquia para condenar mais uma geração ao empobrecimento de sua capacidade crítica.

Seria de perder a esperança, mas há resistência, temos rochedos fortes suportando as tempestades. 

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

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Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

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2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.

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MEDIEVO PORTUGUES: O REI COMO FONTE DE JUSTIÇA NAS CRÔNICAS DE FERNÃO LOPES

Nossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.

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Crônicas: Educação, Cultura e Sociedade

O livro ora apresentado é um apanhado de 104 crônicas, algumas de 1978 e a maioria escrita a partir de 1995 até a presente data. O tema Educação compõe-se de 56 crônicas, outras 16 são relatos descrevendo fábulas ou estórias oriundas da cultura italiana, e os emas Cultura e Sociedade compreendem, cada um, 16 crônicas.

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Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

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[2009] EDIFICANDO A NOSSA CIDADE EDUCADORA

Esse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.

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[1998] Até aqui o Laquicho vai bem: os causos de Liberato Leite de Farias

Ao refletir sobre a importância do contador de causos/narrador para a preservação da cultura, percebe-se que cada vez menos pessoas sabem como contar/narrar, com a devida competência, as experiências do cotidiano. Por quê? Para Walter Benjamin, as ações motivadoras das experiências humanas são as mais baixas e aterradoras possíveis em tempos de barbárie; as nossas experiências acabam parecendo pequenas ou insignificantes diante da miséria e da fragmentação humana, numa constatação que extrapola os espaços nacionais.

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[1991] O MOVIMENTO REIVINDICATÓRIO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL: 1978 - 1988

Momentos de grandes mobilizações têm teito do professorado de Mato do Sul a vanguarda do movimento sindicalista deste Estado. Este fato motivou a realização deste trabalho, que teve como proposta inicial analisar criticamente o movimento reivindicatóno do magistério de Mato Grosso do Sul, na perspectiva de revelar-lhe, tanto quanto possível, o perlil de luta, ao longo de sua palpitante trajetória em busca de melhorias salariais, estabilidade empregatícia e melhoria da qualidade do ensino.

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