Ano novo: saúde e prosperidade

Quase quarenta anos escrevendo crônicas e sempre evito repetições, no entanto em finais de ano sucumbo ao desejo de repetir algumas frases já ditas em ocasiões anteriores. Em primeiro lugar, como diziam meus antepassados, desejo a todos “salute e palanque a tutti e quantii”, ou seja, saúde e prosperidade a todos e em quantidade. Palanque foi uma antiga moeda italiana, daí saúde e dinheiro, ou prosperidade, para sermos mais elegantes.

Outra situação que me ocorre é repetir o imortal Carlos Drummond de Andrade que, em sua genialidade, escreveu que :

"Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano // foi um indivíduo genial // Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão // Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos // Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente".

Sei que muitos poderão não concordar, achando que tudo continuará da mesma forma, que a mudança de datas não significa absolutamente nada na vida de cada um. Com ou sem Ano Novo a vida continua, as contas não desaparecem, o trabalho continua, enfim pensam que não importa nada a passagem de um ano para outro. Mas, além do que disse Drummont, sobre o milagre da renovação, veremos que as coisas estão em constante transformação e que as mudanças são significativas.

Parece incrível, mas a Terra gira em torno de seu próprio eixo a uma velocidade de 1.700 km por hora e ao redor do Sol a 107.000 km por hora. E tem mais, que parece também inacreditável, o Sol e todo o sistema solar gira em relação ao centro da nossa Galáxia a uma velocidade de 1.000.000 (um milhão) de km/hora. Então a pergunta que não cala é:  como o tempo poderia ser apenas e simplesmente uma continuidade repetitiva?

Isso, sem considerarmos que o Universo está em constante expansão, sabe-se lá para onde, para que, e a que velocidade?

Diz-se nas passagens de ano, que o velhinho está para morrer, referindo-se ao ano em seu final. Mas os anos não morrem, apenas passam, deixando marcas, lembranças, história. São lembrados como auspiciosos ou marcados por crises variáveis.

José, ao interpretar o sonho do faraó, foi o primeiro a estabelecer os ciclos, referindo-se aos sete anos de vacas magras como anos de frustrações e os sete anos de vacas gordas como tempos de fartura. Muito mais tarde, já no século 20, historiadores franceses e alemães estabelecerem a existência de ciclos de longa e de curta duração, favoráveis ao desenvolvimento ou catastróficos. Dentro dos ciclos de longa duração interpõe-se ciclos de curta duração, ora um pouco mais favoráveis, ora piores. 

De qualquer forma, em cada ano temos sapos virando príncipes e príncipes virando sapos. Em Dourados, quinta-feira passada, “O Progresso” em suplemento especial, mostrou vários príncipes transformados em sapo: macas espalhadas pelos corredores com pacientes aguardando atendimento, crianças sem escola, praças e parques abandonados, patrimônio cultural em ruínas, ruas esburacadas e sujas, enfim 2016, para nossa cidade parece ter pertencido a um ciclo catastrófico.

Em relação ao nosso país, a crise se deu em níveis mais severos, sendo que o golpe perpetrado contra a presidente Dilma, fez com que o país retrocedesse à política neoliberal dos tempos de FHC. Inflação, desemprego, corte de programas sociais, corrupção, tudo o que parecia ser de responsabilidade de Dilma, avolumam-se no governo Temer. E a dilapidação do patrimônio nacional, como na época de FHC está sendo retomada. A Petrobrás entregou um campo do pré-sal a uma refinaria francesa a preço tão módico que os próprios jornais franceses manifestaram perplexidade e, ainda nessa semana foi vendida uma refinaria da Petrobrás no Japão por míseros 165 milhões de dólares. 

Dizem que as coisas nunca estão tão ruins que não possam piorar, no entanto, há algo que não podemos perder jamais: a esperança. Portanto elevemos os nossos olhos, almejemos coisas melhores, façamos com que os nossos pensamentos positivos façam com que o mundo todo conspire para termos em 2017 um ano que traga à sociedade mais justiça, mais fraternidade, mais amor e igualdade. 

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

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Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

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2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.

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MEDIEVO PORTUGUES: O REI COMO FONTE DE JUSTIÇA NAS CRÔNICAS DE FERNÃO LOPES

Nossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.

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Crônicas: Educação, Cultura e Sociedade

O livro ora apresentado é um apanhado de 104 crônicas, algumas de 1978 e a maioria escrita a partir de 1995 até a presente data. O tema Educação compõe-se de 56 crônicas, outras 16 são relatos descrevendo fábulas ou estórias oriundas da cultura italiana, e os emas Cultura e Sociedade compreendem, cada um, 16 crônicas.

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Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

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[2009] EDIFICANDO A NOSSA CIDADE EDUCADORA

Esse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.

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[1998] Até aqui o Laquicho vai bem: os causos de Liberato Leite de Farias

Ao refletir sobre a importância do contador de causos/narrador para a preservação da cultura, percebe-se que cada vez menos pessoas sabem como contar/narrar, com a devida competência, as experiências do cotidiano. Por quê? Para Walter Benjamin, as ações motivadoras das experiências humanas são as mais baixas e aterradoras possíveis em tempos de barbárie; as nossas experiências acabam parecendo pequenas ou insignificantes diante da miséria e da fragmentação humana, numa constatação que extrapola os espaços nacionais.

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[1991] O MOVIMENTO REIVINDICATÓRIO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL: 1978 - 1988

Momentos de grandes mobilizações têm teito do professorado de Mato do Sul a vanguarda do movimento sindicalista deste Estado. Este fato motivou a realização deste trabalho, que teve como proposta inicial analisar criticamente o movimento reivindicatóno do magistério de Mato Grosso do Sul, na perspectiva de revelar-lhe, tanto quanto possível, o perlil de luta, ao longo de sua palpitante trajetória em busca de melhorias salariais, estabilidade empregatícia e melhoria da qualidade do ensino.

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