O carrasco e a cor da corda

Enquanto aguardávamos atendimento, meu amigo e eu enveredamos a nossa conversa para as questões políticas, já que esse tema é bem apropriado às vésperas das eleições de amanhã.

Meu amigo representa uma boa parte dos eleitores brasileiros, é politizado, mas jamais filiou-se a algum partido político. No entanto, seu voto é fiel a candidaturas de direita. Eu, ao contrário, tenho convicções mais à esquerda, o que não nos impediu de mantermos um diálogo sereno e respeitoso.

Contei-lhe da minha dificuldade em escolher o candidato (a) à prefeitura de Dourados. Militante há 30 anos pelo Partido dos Trabalhadores vi, de repente, desaparecer o chão sob meus pés em virtude de o partido não ter lançado candidato. Como escolher um candidato de uma outra legenda que não a minha?

Constatei, na nossa conversa, que o meu amigo, embora tivesse candidatos de direita para escolher, tinha dificuldade em selecionar um deles.

Nossa constatação foi ampliada na medida em que avaliamos que as dúvidas não eram apenas nossas, mas dos eleitores em geral. Os políticos profissionais não vivem bom momento e grande parte dos eleitores, com toda a certeza, não compareceriam às urnas não fosse o voto obrigatório.

É uma situação de crise, embora ela não se restrinja a Dourados nem ao Brasil. Políticos do mundo inteiro perderam credibilidade nas últimas décadas. A corrupção é um dos fatores que mais gera essa descrença, mas não só ela. Os políticos, até mesmo os bem-intencionados, assumem compromissos dentro de uma lógica plausível e exequível, mas as circunstâncias, muitas vezes, impedem a realização do que parecia ser óbvio. Isso sem falar nos políticos sofistas, que prometem mundos e fundos sem compromissos com a possibilidade de realização.

                Diante dessas constatações, verificando que ambos tínhamos dificuldades para a escolha de nosso candidato, resolvemos traçar o perfil daquele que seria o candidato ideal para administrar uma cidade pujante como Dourados.

                O candidato haveria de ser humilde. Não se pode admitir que o gestor público seja arrogante, que não tenha com o seu povo uma relação respeitosa. Haveria também de ser habilidoso na formação de sua equipe de trabalho. Uma equipe deve funcionar nos moldes semelhantes a uma orquestra, ninguém pode desafinar. Há que se ter uma sintonia que proporcione um trabalho coletivamente voltado para a concepção das metas estabelecidas.

Para estabelecer metas, há necessidade de se elaborar um planejamento estratégico, estabelecendo prioridades de acordo com as receitas do município, e, depois de estabelecidas essas prioridades, a equipe toda deve empenhar-se em sua execução.

Planejar, acompanhar a execução do que foi planejado e avaliar os resultados. Esses pontos são de extrema importância para que, um após outro, os projetos sejam implementados e a população se satisfaça com os resultados obtidos.   

É provável que com esses requisitos minimamente indispensáveis para uma administração, os eleitores já tenham definido o seu candidato. No entanto, as novas regras eleitorais têm dificultado imensamente o contato entre candidato e eleitor.

Conversa vai, conversa vem, e para encurtar o caso, de repente meu amigo me sai com uma metáfora muito engraçada e de encerrar o assunto. Disse-me ele que a situação dessas eleições não está nada fácil, que é como se o carrasco chegasse para ele e falasse: o senhor vai para a forca e nada poderá mudar esse destino. A única coisa que lhe permito é escolher a cor da corda com a qual deseja ser enforcado. ­

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

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Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

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2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.

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MEDIEVO PORTUGUES: O REI COMO FONTE DE JUSTIÇA NAS CRÔNICAS DE FERNÃO LOPES

Nossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.

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Crônicas: Educação, Cultura e Sociedade

O livro ora apresentado é um apanhado de 104 crônicas, algumas de 1978 e a maioria escrita a partir de 1995 até a presente data. O tema Educação compõe-se de 56 crônicas, outras 16 são relatos descrevendo fábulas ou estórias oriundas da cultura italiana, e os emas Cultura e Sociedade compreendem, cada um, 16 crônicas.

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Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

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[2009] EDIFICANDO A NOSSA CIDADE EDUCADORA

Esse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.

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[1998] Até aqui o Laquicho vai bem: os causos de Liberato Leite de Farias

Ao refletir sobre a importância do contador de causos/narrador para a preservação da cultura, percebe-se que cada vez menos pessoas sabem como contar/narrar, com a devida competência, as experiências do cotidiano. Por quê? Para Walter Benjamin, as ações motivadoras das experiências humanas são as mais baixas e aterradoras possíveis em tempos de barbárie; as nossas experiências acabam parecendo pequenas ou insignificantes diante da miséria e da fragmentação humana, numa constatação que extrapola os espaços nacionais.

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[1991] O MOVIMENTO REIVINDICATÓRIO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL: 1978 - 1988

Momentos de grandes mobilizações têm teito do professorado de Mato do Sul a vanguarda do movimento sindicalista deste Estado. Este fato motivou a realização deste trabalho, que teve como proposta inicial analisar criticamente o movimento reivindicatóno do magistério de Mato Grosso do Sul, na perspectiva de revelar-lhe, tanto quanto possível, o perlil de luta, ao longo de sua palpitante trajetória em busca de melhorias salariais, estabilidade empregatícia e melhoria da qualidade do ensino.

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