Esses médicos... ( II )

Há pouco tempo atrás podíamos prever com certo grau de segurança os avanços técnicos e científicos que ocorreriam em futuro próximo, atualmente já não temos certezas; da mesma forma que pode surgir a cura para o câncer, pode surgir a caça a Pokémons que levam um jovem, por exemplo, a pular as grades do parque Antenor Martins, à noite, sem se importar com eventuais perigos.

Na área médica os avanços nos últimos trinta anos causam perplexidade. Em 1976 o casal de médicos Félix e Dilma Arenales, então recentemente chegados em Dourados, ministraram um curso preparatório para o casamento do qual minha mulher e eu participamos. É provável que o casal soubesse da existência do ultrassom, usado no Brasil pela primeira vez em 1973, mas o Dr. Felix, que àquela época, e pelo menos até início dos anos 80 sequer contava com esse aparelho, tornou-se um dos pioneiros em cirurgias laparoscópicas e não duvido que em breve ele, ou algum outro médico dentre os antigos, dos formandos da UFGD ou dos que estão chegando de outros estados (pois há uma migração de médicos para Dourados nos últimos anos, por sermos um centro médico hospitalar respeitável), introduza aqui em nossa cidade cirurgias com a utilização de robôs. Sei que o Dr.Felix já tem curso para operar esses robôs, mas ainda não temos nenhum em Dourados (só 16 no Brasil) devido ao alto custo do aparelho, de 10 a 25 milhões de reais.

Bom, às vezes essa história do caro é relativa, o Aquário do Pantanal, obra ainda inconclusa, já consumiu em torno de 250 milhões, dinheiro que, se tivesse sido priorizado para a saúde, daria para comprar uns 10 robôs, dividindo-os entre as cidades polo do estado.

Dourados atualmente conta com uma parafernália de instrumentos que só em casos muito raros precisamos nos deslocar para outros centros maiores em busca de equipamentos ainda mais sofisticados do que possuímos. É impressionante como os médicos puderam evoluir graças aos avanços tecnológicos e científicos e como aumentou a média de vida das pessoas, bem como a sobrevida dos enfermos.

Volto aos meados da década de 1950 quando minha mãe me levou ao consultório do Dr. Romeu Domício Marconi (hoje nome de rua em Itápolis). O alpendre da casa (na qual era o consultório) estava lotado, a maioria das pessoas eram atendidas gratuitamente. Lembro-me como se fosse hoje que em determinada hora a mãe do Dr. Romeu saiu à porta e pediu que “pelo amor de Deus, deixassem o Dr. Romeu almoçar”.

Eram tempos difíceis, sem SUS, sem SAMU, sem UPAs, enfim tempos de Santas Casas de Misericórdia, onde os médicos mais atendiam por caridade que por dinheiro.

Talvez por isso, embora digam que com o “ intuito de garantir a liberdade e a dignidade dos profissionais de saúde”, foi criada a UNIMED, em 1967, na cidade de Santos, de onde se espalhou rapidamente e hoje é representada pela Confederação Nacional das Cooperativas Médicas.

Responsável por 40% dos atendimentos circunscritos aos planos de saúde pagos, a UNIMED, se por um lado favoreceu sobremaneira a categoria médica, que não teria sobrevivência fácil unicamente com atendimentos particulares, por outro, possibilitou à “classe média” a oportunidade de ser tratada com dignidade desde que invista mensalmente uma determinada importância, variável de acordo com o plano.

Falo desse bem organizado plano de saúde para sonhar com algo semelhante, que contemplasse todos os brasileiros. Mais de 80 milhões de brasileiros dependem do sistema SUS. Se o governo federal implementasse a “Bolsa Saúde”, pagando cem reais mensais para os usuários do SUS investiria por mês 8 bilhões de reais. Estudos recentes do Conselho Federal de Medicina indicam que o governo gasta R$ 3,89 reais/dia por habitante. Significa dizer R$ 116,00, reais/mês, ou seja, nove bilhões e trezentos milhões/mês.

O Bolsa Saúde não seria o desmonte do SUS, ao contrário, seria o seu fortalecimento, pois os beneficiários pela bolsa poderiam ser atendidos no próprio consultório médico.

Organizar um sistema dessa natureza não seria tarefa fácil, mas o governo bem que poderia realizar uma auditoria da dívida pública, para a qual dispende 32 bilhões por mês e investir alguns bilhões a mais para a saúde. Isso tudo faria bem aos trabalhadores e aos empresários.

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

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Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

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2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.

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Nossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.

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Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

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Esse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.

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