As belas mentiras

O título desta crônica é inspirado na obra de Maria de Lourdes Chagas Deiro, “As belas mentiras: a ideologia subjacente aos textos didáticos”. Nesta obra a autora denuncia a visão irreal contida nos textos de leitura de 1º grau, o que possibilita ações antieducativas que impõe a cultura dominante. A leitura de “As Belas Mentiras” pode significar uma abertura de espaços para que “a escola encontre, talvez através dos próprios textos, didáticos, o caminho de sua libertação”.

Não encontrei a obra em minha desorganizada biblioteca para relembrar sobre o tema, mas na busca deparei-me com a revista de “Estudos Avançados”, da USP, que traz brilhante artigo de Paulo Nogueira Batista Jr. “Mitos da Globalização”, (uma bela mentira), o que me proporcionou uma convergência dos temas e levou-me a refletir sobre as belas mentiras do momento em que vivemos e procurar demonstrar aos meus caros leitores que todo cuidado é pouco ao lermos livros, revista, jornais ou mesmo ouvirmos programas noticiosos do Rádio e da Televisão.

Ouvi dizer que na administração Tetila foram colocados canos de um milímetro na Reserva Francisco Horta e que, portanto, a perfuração de poços não resolveria o problema da falta de água nas aldeias, especialmente na Bororó. Pois bem, na verdade a administração Tetila manteve contato com a UNICEF e com a Fundação de Saúde Indígena e desses encontros é que se obteve a canalização de água potável na Reserva e a distribuição de centenas de filtros para evitar a morte, principalmente de crianças, que ocorria àquela época como verdadeira epidemia. 

Em relação à Avenida Guaicurus, que deveria ser um cartão de visitas para nossa cidade, o ex-governador, ao ser cobrado, especialmente pelos estudantes da UFGD e UEMS, afirmou que até outubro de 2014 entregaria uma rodovia igual às existentes na Suíça. E que ocorreu? Mais de um ano de atraso nas obras e, pior, uma construção de péssima qualidade, uma iluminação caindo por si só, uma ciclovia inutilizável, pois os entulhos nela se acumulam quando as chuvas provocam enxurradas, mesmo que pequenas.

O prefeito municipal, mesmo sendo proprietário de uma escola de ensino superior recusa-se a receber os professores da rede municipal que se encontram em greve. No caso a bela mentira resume-se na falta de dinheiro, mas ora, se não houver dinheiro basta receber os professores e fazer a demonstração do que pode e do que não pode ser feito, a exemplo do que fazíamos na administração Tetila, quando estivemos na secretária de governo.

Outra das belas. A Folha de São Paulo recentemente deturpou vergonhosamente uma pesquisa realizada pela Instituto Data Folha, dando a impressão de que o povo brasileiro está satisfeito com o governo provisório. Incrível que o próprio ombudsman do jornal desvelou essa bela mentira. 

Mais uma. Dias atrás “O Globo” em editorial defendeu a cobrança de pagamentos para os estudantes das escolas públicas de ensino superior, alegando que nos países desenvolvidos o ensino superior é pago. Duas belas mentiras: cito de memória alguns países onde o ensino é inteiramente gratuito: Alemanha, Finlândia, Dinamarca, Reino Unido, Escócia, País de Gales e por aí afora. E, segundo, a alegação de que o ensino superior é frequentado pela elite econômica do Brasil não justifica a cobrança. Distribuição de renda se faz com aplicação de impostos justos, pagando mais quem tem mais e menos quem menos tem, não com pagamento de escola.

Outra ainda. Atribuir apenas aos políticos (especialmente aos petistas) a pecha de corruptos é, praticamente, uma autodefesa dos sonegadores de impostos de empresários mancomunados com contratos ilegais e com a grande mídia. O político não se torna corrupto quando ingressa na política, mas já é corrupto antes mesmo de ser candidato.

Por fim, não que o tema se esgote. Mas dizer que o governo Temer é legítimo é a maior, a mais bela mentira de toda a história do Brasil. A presidente Dilma pode até perder o seu mandato, por estar nas mãos de alguns senadores que negociaram com Temer e Cunha a sua cassação, mas para a história, o golpe em andamento jamais será chamado de impeachment, com legalidade constitucional.

Mas, enfim, não somente as mentiras são malevolentes, como disse o poeta Alfred Tennyson, “a mentira que é meia verdade é a pior das mentiras”.

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

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Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

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2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.

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MEDIEVO PORTUGUES: O REI COMO FONTE DE JUSTIÇA NAS CRÔNICAS DE FERNÃO LOPES

Nossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.

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Crônicas: Educação, Cultura e Sociedade

O livro ora apresentado é um apanhado de 104 crônicas, algumas de 1978 e a maioria escrita a partir de 1995 até a presente data. O tema Educação compõe-se de 56 crônicas, outras 16 são relatos descrevendo fábulas ou estórias oriundas da cultura italiana, e os emas Cultura e Sociedade compreendem, cada um, 16 crônicas.

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Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

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[2009] EDIFICANDO A NOSSA CIDADE EDUCADORA

Esse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.

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[1998] Até aqui o Laquicho vai bem: os causos de Liberato Leite de Farias

Ao refletir sobre a importância do contador de causos/narrador para a preservação da cultura, percebe-se que cada vez menos pessoas sabem como contar/narrar, com a devida competência, as experiências do cotidiano. Por quê? Para Walter Benjamin, as ações motivadoras das experiências humanas são as mais baixas e aterradoras possíveis em tempos de barbárie; as nossas experiências acabam parecendo pequenas ou insignificantes diante da miséria e da fragmentação humana, numa constatação que extrapola os espaços nacionais.

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[1991] O MOVIMENTO REIVINDICATÓRIO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL: 1978 - 1988

Momentos de grandes mobilizações têm teito do professorado de Mato do Sul a vanguarda do movimento sindicalista deste Estado. Este fato motivou a realização deste trabalho, que teve como proposta inicial analisar criticamente o movimento reivindicatóno do magistério de Mato Grosso do Sul, na perspectiva de revelar-lhe, tanto quanto possível, o perlil de luta, ao longo de sua palpitante trajetória em busca de melhorias salariais, estabilidade empregatícia e melhoria da qualidade do ensino.

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