Mitos, fábulas e realidade

Buscado na rica mitologia grega, o mito de Sísifo, foi escrito em 1941 pelo imortal Albert Camus, escritor de “O Estrangeiro” e “A peste”, entre outros. Sísifo, teve a sua alma condenada a conduzir uma enorme pedra até o topo de uma montanha, missão impossível, porque quando estava para atingir o alvo a pedra despencava morro abaixo e lá ia novamente Sísifo buscá-la com o objetivo de atingir o topo. O personagem era considerado o mais esperto dentre os humanos e, justamente por seus embustes, foi condenado por Zeus. Os deuses gregos, eram constituídos à imagem e semelhança dos homens, portanto sujeitos a bondades, mas também, não raro, eram assassinos, ladrões, a exemplo de Prometeu, o primeiro de uma linhagem de notórios deuses embusteiros, responsável por ter furtado o fogo dos deuses.

Subjacente ao mito de Sísifo poderíamos encontrar dramas atuais e ainda mais profundos?

Deixemos por ora Sísifo empurrando eternamente a sua enorme pedra para lembrarmo-nos de Midas, personagem real, rei da Frígia, em torno de 1800 anos a.C., que se transformou em mito pela sapiência grega. O pai de Baco havia se excedido na bebida e foi recolhido no castelo de Midas que o hospedou condignamente por dez dias. No décimo primeiro dia entregou-o a Baco que se mostrou imensamente satisfeito com a volta do pai gozando de boa saúde e, por isso, o generoso deus do vinho, disse a Midas que pedisse aquilo que desejasse e seria atendido. Midas pediu todo o ouro que pudesse pôr as mãos, e assim foi feito.

O mito é conhecido, Midas apanhou pequeno ramo de carvalho e para a sua alegria teve ouro, tocou uma maçã e teve ouro, tocou o pão e teve ouro, enfim tudo o que era por ele tocado virava ouro, inclusive a sua filha. Não se come ou se bebe ouro, Midas ficou desesperado e apelou a Baco que desfizesse aquele encanto. Baco atendeu fazendo com que ele banhasse no rio Pactolo tudo o que havia transformado em ouro para que voltasse ao normal. Ufa! Que alívio, quanta bondade a de Baco.

Os mitos, como os acima, são criações coletivas, surgidos desde os tempos primordiais e tentam explicar o mundo utilizando-se de entes sobrenaturais. Os mitos têm um valor ainda maior do que trazem intrinsicamente, podem levar-nos a refletir sobre situações atuais.

As fábulas, por sua vez, são criações puramente imaginadas com o objetivo de passar algum tipo de ensinamento moral. Grimm foi grande mestre de fábulas e dele empresto a do leão e o golfinho:

“Um leão que perambulava por uma praia cruzou com o olhar de um golfinho. Logo convidou-o a se juntar a ele.

“Eu e tu faremos uma dupla perfeita, pois reinamos, tu sobre os animais marinhos e eu sobre os terrestres.

O golfinho aprovou com alegria essa ideia. Ora o leão mantinha de longa data uma guerra contra um touro selvagem. Pediu então a ajuda do golfinho. Mas este, por mais que tentasse sair da água, não conseguia, e o leão acusou-o de traição. O golfinho respondeu:

- Não me acuses, é minha natureza que me faz viver na água não me permite pisar em terra firme”.

Devemos recorrer a aliados que possam nos socorrer na hora do perigo e não fazer como o escorpião que, depois de ser transportado pelo sapo até terra firme, ao invés de agradecer-lhe cravou-lhe o ferrão. Aos protestos do sapo o escorpião respondeu-lhe: é o meu instinto.

Juntando mitos e fábulas acima podemos concluir que ao povo cabe o trabalho de Sísifo. Carregar sobre os ombros o peso da construção do PIB de uma nação, e quando se encontra perto de uma vida melhor, vê a sua pedra rolar novamente ladeira abaixo.

O Midas atual não é mais tão ingênuo a ponto de querer transformar tudo em ouro com as próprias mãos. Agora quer o poder a todo o custo para com ele viver a riqueza gerada pelos Sísifos dessa vida.

Quanto às fábulas abrem-se duas vertentes para explicar a realidade atual. Muitos foram os golfinhos bem-intencionados (deputados, senadores e parte do povo), que tentaram ajudar a amiga na presidência, no entanto em razão da modesta força que aglutinaram não conseguiram o intento. Os escorpiões não somente agiram pelo instinto, mas ao que parece organizaram-se, transformaram-se em Midas, na busca pelo poder, acavalados nos sapos, simbolicamente representados pelas camadas sociais mais vulneráveis e na classe trabalhadora.

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

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Livros

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