Severino

João Cabral de Melo Neto (e não Franco, como saiu no original) em “Morte e vida Severina” retrata o sofrimento de um retirante, Severino, nome tão comum no nordeste brasileiro, como o de Raimunda, que é homenagem a santa protetora das mulheres grávidas. Na introdução da obra João Cabral caracteriza muito adequadamente o personagem principal: “ O meu nome é Severino, / Como não tenho outro de pia. / Como há muitos Severinos, que é santo de romaria, / deram então de me chamar Severino de Maria / como há muitos Severinos/com mães chamadas Maria, / fiquei sendo o da Maria do finado Zacarias”.

Mas nem só no Nordeste e na imortal obra de João Cabral, existem Severinos. Conheço um aqui de Dourados, meu amigo há mais de trinta anos cujo pai é paraguaio e mãe gaúcha, morando atualmente na Reserva Indígena devido ao seu segundo casamento. Conhecemo-nos na militância política e a nossa amizade consolidou-se graças a convergência de nossas ideias em torno de uma sociedade mais justa e mais igualitária.

Devido ao seu desejo de transformar o Mundo Severino candidatou quatro vezes, na tentativa de eleger-se vereador ou deputado, mas desistiu, pois ele mesmo afirmou que “nunca teve sorte na política”

No livro de Nicanor Coelho, “Heróis Dourados” Severino mereceu um artigo com direito a foto ao lado de seu velho e surrado Corcel amarelo, ano 1973. No artigo “Severino, o ‘inelegível’, e o seu intrépido amigo ‘amarelo’”, é contada a história de luta desse homem que aos 14 anos fez a sua mala e partiu de Amambai, onde morava com o avô, para Dourados, tentar fazer a sua vida. Começou fabricando tijolos em uma olaria, depois tornou-se pedreiro. Casou-se cedo com uma bela negra (Valdenice) da família Guilherme, com quem vive até hoje e com a qual teve um filho. Ela, salgadeira de primeira classe, ele, agora, depois de muito esforço e vários cursos, tornou-se mestre de obras.

Por conhecer bem Severino, quando minha filha e o noivo resolveram construir uma casa, eu o chamei, apresentei-o, e eles firmaram verbalmente o contrato para a construção.

Todas as vezes em que visito a obra, hoje já respalda, impressiona-me não somente a técnica esmerada da construção em si, mas a limpeza que mantém na obra e o cuidado em não produzir muito entulho. Dá gosto de ver, parece até mesmo que ele andou fazendo algum curso sobre cidades educadoras, onde as boas práticas são elogiadas.

Sempre prestativo, calmo, sorriso largo, Severino e sua esposa são vencedores. Lutaram, mas venceram. Não que tenham se tornado ricos, precisam continuar trabalhando, no entanto são felizes. O velho corcel amarelo ficou apenas na lembrança, hoje ele possui um belo Uno no qual engata uma carreta, quando se faz necessário levar algum material para as suas obras.

Dias atrás, me contou ele, foi ao aeroporto de Campo Grande esperar a esposa que tinha ido a Manaus visitar uma irmã.

Confesso minha perplexidade. Já li e ouvi falar que os pobres que ascenderam à classe média, estavam frequentando aeroportos, mas agora estava ali, frente a frente com um deles. Então não resisti, perguntei-lhe como poupara para tão longa viagem e se Valdenice, sendo negra não sofrera nenhum tipo de racismo.

Que nada, disse-me Severino com o seu sorriso largo, depois que o Lula entrou, não me faltou serviço, a mão de obra do pedreiro foi valorizada e, mesmo agora, com Dilma, fala-se muito em crise, mas não me falta trabalho. 

Felicito meu amigo e fico pensando com os meus botões que a Lava a Jato, mais conhecida como vaza a jato, está muito demorada e prejudicando o combate à crise. Penso que estão pendentes muitas apurações e não somente as que tentam derrubar Dilma, prender Lula e esmagar o PT. Existem outros escândalos, que precisam ser apurados, inclusive o recente provocado por Fernando Henrique, não no que toca à sua vida privada, mas no que concerne aos compromissos que fez com a Globo, BNDS e a Brasif, para esconder a amante na Europa.

Torna-se extremamente necessário que o Ministro da Justiça estabeleça novas equipes para dar agilidade às investigações, punir quem mereça e inocentar os que nada devem. Assim o país poderá retomar o seu crescimento, com muitos Severinos, não mais “os de Maria e do finado Zacarias”, mas que hoje tem nome próprio como Severino Cavanha de Ávila, o personagem dessa crônica. 

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

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Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

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2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.

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MEDIEVO PORTUGUES: O REI COMO FONTE DE JUSTIÇA NAS CRÔNICAS DE FERNÃO LOPES

Nossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.

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Crônicas: Educação, Cultura e Sociedade

O livro ora apresentado é um apanhado de 104 crônicas, algumas de 1978 e a maioria escrita a partir de 1995 até a presente data. O tema Educação compõe-se de 56 crônicas, outras 16 são relatos descrevendo fábulas ou estórias oriundas da cultura italiana, e os emas Cultura e Sociedade compreendem, cada um, 16 crônicas.

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Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

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[2009] EDIFICANDO A NOSSA CIDADE EDUCADORA

Esse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.

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[1998] Até aqui o Laquicho vai bem: os causos de Liberato Leite de Farias

Ao refletir sobre a importância do contador de causos/narrador para a preservação da cultura, percebe-se que cada vez menos pessoas sabem como contar/narrar, com a devida competência, as experiências do cotidiano. Por quê? Para Walter Benjamin, as ações motivadoras das experiências humanas são as mais baixas e aterradoras possíveis em tempos de barbárie; as nossas experiências acabam parecendo pequenas ou insignificantes diante da miséria e da fragmentação humana, numa constatação que extrapola os espaços nacionais.

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[1991] O MOVIMENTO REIVINDICATÓRIO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL: 1978 - 1988

Momentos de grandes mobilizações têm teito do professorado de Mato do Sul a vanguarda do movimento sindicalista deste Estado. Este fato motivou a realização deste trabalho, que teve como proposta inicial analisar criticamente o movimento reivindicatóno do magistério de Mato Grosso do Sul, na perspectiva de revelar-lhe, tanto quanto possível, o perlil de luta, ao longo de sua palpitante trajetória em busca de melhorias salariais, estabilidade empregatícia e melhoria da qualidade do ensino.

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