Paulo Freire e o não determinismo

A editora da UFGD já publicou 160 obras nessa sua curta existência e eu, um tanto lentamente vou tentando acompanhar as publicações inclusive catalogando-as em meu site (www.biasotto.com.br). No momento, com delicioso prazer, leio “Universidade e Educação Básica no Brasil: a atualidade do pensamento de Paulo Freire”, livro organizado pelo professor Paulo Gomes Lima, com sete artigos de professores sobre a obra freiriana.

Como é sabido, Paulo Freire foi um dos mais, senão o mais, importante educador do século 20 e continua atual e indispensável para todos os que acreditam numa educação transformadora.

Paulo Freire, assim como eu, era fumante. Ele refletiu sobre esse seu vício e dessa reflexão formulou uma teoria que conto-lhes a seguir. Primeiro devo dizer que fui um fumante inveterado e mal educado até os 40 anos de minha existência, andava com um pacote de cigarros no porta luvas do carro e mantinha outro no guarda-roupas em casa. Belo dia, vejo-me sem cigarros e como eles faziam parte de mim sai para comprar aquilo que julgava fonte de prazer. Na volta, enquanto tragava voluptuosamente, comecei a pensar sobre os males que o cigarro provocava.

Tínhamos, àquela época, Helena e eu, três filhos ainda crianças, e o cigarro poderia me levar à morte bem cedo, sem ao menos ajudar minha mulher a cria-los. E, além disso, o meu fôlego já não era suficientemente forte para ajudar meus companheiros nas peladas de futebol. Subitamente atirei pela janela do carro o toco de cigarro e decidi nunca mais fumar. Sofri, mas já se vão quase 28 anos de boa saúde.

Minha ação foi de ordem prática. Paulo Freire, refletiu sobre o ato de fumar e teorizou sobre o assunto que se presta também para levar-nos a pensar sobre quaisquer outros projetos de nossas vidas.

A professora Marina Vinha, em artigo “Pedagogia da indignação de Paulo Freire”, no livro supracitado, evidenciou que, para abandonar o vício, Freire primeiro reconheceu a sua fragilidade sobre tabagismo para depois reagir. Em resumo, ela explicita que o tabagismo diante da vontade enfraquecida e de uma resistência frágil, faz com que a pessoa não lute contra a opressão.

A autora conclui que Paulo Freire, a partir dessa vivência, sentencia que “jamais temos que nos entregar à falsidade ideológica da frase: ‘a realidade é assim mesmo, não adianta lutar”. Tanto nas injustiças sociais quanto na briga pessoal com as drogas, não importa qual delas, ao aceitar que ‘nada se pode fazer’ solapamos e fragilizamos o ânimo necessário para vencê-las”.

É isso. Com essa reflexão sobre um fato corriqueiro, diante da grandiosidade da obra de Paulo Freire, podemos avançar para outros exemplos. Governantes de ânimo fraco não conseguem constituir uma equipe forte. Diante de crises, curvam-se, procuram em terceiros a culpa, sem esboçarem o mínimo esforço para estudar a causa, a proveniência da crise e tentar meios de superá-la.

No âmbito do Legislativo Federal, muitos têm o ânimo fraco e deixam as coisas acontecerem e existe ânimos fortes, mas que defendem posições diferentes. Atualmente, por exemplo, estamos passando por uma crise do capital, veja o leitor, uma crise do capital, não de governança. Diante da crise, o deputado Ricardo Barros (PP-PR), relator do projeto de Orçamento para 2016, deseja cortar 10 bilhões do Bolsa Família.

Ora, esse deputado tem ânimo forte, mas para proteger o capital de duas formas: não colocando o dedo na ferida, ou seja, não provocando uma auditoria da dívida, que somente favorece os rentistas e ao mesmo tempo exclui o Bolsa Família para gerar a pobreza e, por via de consequência, criar um exército de reserva para proporcionar mão de obra barata, favorecendo assim, mais uma vez, a elite econômica.

Ânimo forte têm também os deputados e senadores que se contrapõe a esse corte, pois sabem que o Bolsa Família tirou 36 milhões de brasileiros da faixa de pobreza. Dez bilhões pouco significado têm diante da dívida pública interna, que consome mais de 40% do Orçamento da União e favorece apenas e tão somente os rentistas. Nesse caso, o caminho seria provocar uma auditoria da dívida, um arrocho sobre os bilionários sonegadores e dar continuidade ao combate à corrupção, mas sem favorecimentos a esse ou aquele partido e acima de tudo com respeito à Constituição. 

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

Voltar

Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

Abrir arquivo

2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.

Abrir arquivo

MEDIEVO PORTUGUES: O REI COMO FONTE DE JUSTIÇA NAS CRÔNICAS DE FERNÃO LOPES

Nossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.

Abrir arquivo

Crônicas: Educação, Cultura e Sociedade

O livro ora apresentado é um apanhado de 104 crônicas, algumas de 1978 e a maioria escrita a partir de 1995 até a presente data. O tema Educação compõe-se de 56 crônicas, outras 16 são relatos descrevendo fábulas ou estórias oriundas da cultura italiana, e os emas Cultura e Sociedade compreendem, cada um, 16 crônicas.

Abrir arquivo

Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

Abrir arquivo

[2009] EDIFICANDO A NOSSA CIDADE EDUCADORA

Esse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.

Abrir arquivo

[1998] Até aqui o Laquicho vai bem: os causos de Liberato Leite de Farias

Ao refletir sobre a importância do contador de causos/narrador para a preservação da cultura, percebe-se que cada vez menos pessoas sabem como contar/narrar, com a devida competência, as experiências do cotidiano. Por quê? Para Walter Benjamin, as ações motivadoras das experiências humanas são as mais baixas e aterradoras possíveis em tempos de barbárie; as nossas experiências acabam parecendo pequenas ou insignificantes diante da miséria e da fragmentação humana, numa constatação que extrapola os espaços nacionais.

Abrir arquivo

[1991] O MOVIMENTO REIVINDICATÓRIO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL: 1978 - 1988

Momentos de grandes mobilizações têm teito do professorado de Mato do Sul a vanguarda do movimento sindicalista deste Estado. Este fato motivou a realização deste trabalho, que teve como proposta inicial analisar criticamente o movimento reivindicatóno do magistério de Mato Grosso do Sul, na perspectiva de revelar-lhe, tanto quanto possível, o perlil de luta, ao longo de sua palpitante trajetória em busca de melhorias salariais, estabilidade empregatícia e melhoria da qualidade do ensino.

Abrir arquivo

Contato

Informações de Contato

biasotto@biasotto.com.br