Educação e luta de classes

Durante os meus estudos no ensino fundamental vivi uma experiência gratificante. Itápolis, onde estudei, não tinha escolas particulares e, na pública, estávamos juntos, o filho do empresário, do bancário, do trabalhador braçal. Já no ensino médio, em Catanduva, tendo que estudar à noite e trabalhar durante o dia notei diferença: os filhos das pessoas mais abastadas estudavam durante o dia, gerando diferença significativa.

Com a expansão do ensino público (anos de 1970), a falta de professores fez com que a qualidade caísse e, então, proliferaram as escolas particulares oferecendo vagas desde o maternal até a faculdade. O paradoxal é que as escolas particulares de ensino médio ensinavam melhor que as do ensino público, todavia as universidades públicas sempre foram melhores em qualidade do que as particulares, então as universidades públicas passaram a selecionar apenas os oriundos do ensino médio particular.

Atualmente com a melhoria das escolas públicas de ensino fundamental e médio e com o estabelecimento das cotas, já não chegam à universidade pública apenas os alunos que puderam pagar boas escolas particulares do ensino médio e já se estabelece no ensino superior uma convivência entre categorias sociais distintas. No entanto, no ensino fundamental e médio, prevalece uma distinção muito grande. Para o ensino público vão os oriundos da classe trabalhadora, para o ensino particular filhos das categorias mais privilegiadas.

Conclusão, o rico não convive mais com o pobre. E, sem essa convivência, que era enriquecedora, temos hoje o aumento do preconceito e da discriminação. 

Se o caro leitor discordar do meu raciocínio convido-o a ler um artigo de Claudia Valim, “O que o Brasil pode aprender em Educação com a Finlândia”, publicado no Diário do Centro do Mundo.

A autora nos ensina que no início dos anos de 1970, mas com grande ênfase a partir dos anos 90, a Finlândia promoveu uma reforma no ensino, estabelecendo o ensino público para todos e, assim sendo, o filho do lixeiro e do empresário estudam juntos, na mesma escola, na mesma sala. Os resultados começaram a aparecer 30 anos depois e hoje “a Finlândia transformou um sistema educacional medíocre, elitista e ineficaz (...) em uma incubadora de talentos que alçou o país para o topo dos rankings mundiais de desempenho estudantil, e alavancou o nascimento de uma economia sofisticada e altamente industrializada onde antes jazia uma sociedade substancialmente agrária”.

Quando Dourados era uma Cidade Educadora, conheci o projeto da professora Cristina, do CAIC, em que os alunos de sua sala trocavam cartas com alunos de uma escola da reserva indígena e, ao final, se visitaram. Quero dizer que, se não dá para fazermos igual a Finlândia, ao menos que façamos alguma coisa criativa como a citada, para contribuirmos para que a luta de classes não chegue um dia a ser luta armada. Pois, convenhamos, atualmente com esse apartheid estamos estimulando o preconceito e a intolerância, já transformada em ódio, que se manifesta de maneiras variadas.

Não à toa que a crise política brasileira é maior que a crise financeira. Os representantes da classe dominante estão procurando sufocar o governo federal que tentou com sucesso, nos últimos 14 anos, implementar um pouco mais de justiça social ao nosso sofrido povo trabalhador.

Difícil esperar para o curto prazo uma reforma semelhante a da Finlândia no Brasil. Na Finlândia houve resistências no começo, mas hoje, contrariando os conceitos existentes no mundo capitalista, os professores finlandeses são valorizados, as salas são compostas no máximo com vinte alunos, nas séries iniciais as aulas propriamente ditas não duram mais do que duas horas e o restante do tempo é dedicado a atividades muito variadas.

Tivemos um sonho semelhante em Dourados: criaríamos centros culturais em todas as nossas escolas para que as crianças desenvolvessem atividades diversas (dança, canto coral, música instrumental, teatro) e utilizaríamos um de nossos parques para abrigar um grande Centro Cultural que reuniria os melhores talentos em cada área cultural ou desportiva para termos assim o ensino integral que desenvolveria uma geração menos sujeita aos vícios da sociedade contemporânea. 

Pena que a Finlândia esteja muito distante.

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

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Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

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2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.

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MEDIEVO PORTUGUES: O REI COMO FONTE DE JUSTIÇA NAS CRÔNICAS DE FERNÃO LOPES

Nossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.

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Crônicas: Educação, Cultura e Sociedade

O livro ora apresentado é um apanhado de 104 crônicas, algumas de 1978 e a maioria escrita a partir de 1995 até a presente data. O tema Educação compõe-se de 56 crônicas, outras 16 são relatos descrevendo fábulas ou estórias oriundas da cultura italiana, e os emas Cultura e Sociedade compreendem, cada um, 16 crônicas.

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Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

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[2009] EDIFICANDO A NOSSA CIDADE EDUCADORA

Esse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.

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[1998] Até aqui o Laquicho vai bem: os causos de Liberato Leite de Farias

Ao refletir sobre a importância do contador de causos/narrador para a preservação da cultura, percebe-se que cada vez menos pessoas sabem como contar/narrar, com a devida competência, as experiências do cotidiano. Por quê? Para Walter Benjamin, as ações motivadoras das experiências humanas são as mais baixas e aterradoras possíveis em tempos de barbárie; as nossas experiências acabam parecendo pequenas ou insignificantes diante da miséria e da fragmentação humana, numa constatação que extrapola os espaços nacionais.

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[1991] O MOVIMENTO REIVINDICATÓRIO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL: 1978 - 1988

Momentos de grandes mobilizações têm teito do professorado de Mato do Sul a vanguarda do movimento sindicalista deste Estado. Este fato motivou a realização deste trabalho, que teve como proposta inicial analisar criticamente o movimento reivindicatóno do magistério de Mato Grosso do Sul, na perspectiva de revelar-lhe, tanto quanto possível, o perlil de luta, ao longo de sua palpitante trajetória em busca de melhorias salariais, estabilidade empregatícia e melhoria da qualidade do ensino.

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