A síndrome do pensamento acelerado

Pais que não conseguem compreender o que está acontecendo no mundo atual correm o sério risco de ter os seus filhos desencaminhados para os vícios mais extravagantes. Mas, que dizer daqueles que acompanham as mudanças e que conseguem ler o mundo? Terão porventura sucesso na educação dos filhos?

Paulo Freire continua sendo um bom guia, mas recentemente conheci a teoria do psicanalista Augusto Cury que me abriu novos rumos. Sabe quando você lê, ou ouve alguma coisa, que tem dentro de si, mas que não consegue sistematizar? Foi isso que me aconteceu quando conheci a teoria “síndrome do pensamento acelerado”.

Há muito se conhece a criança hiperativa, ou seja, aquela criança que possui uma agitação acima do normal, acima da média das pessoas com as quais convive. Não para quieta, responde às perguntas antes mesmo de serem concluídas, é impulsiva, enfim, parece faltar-lhe limites impostos pelos pais ou professores, mas na verdade trata-se de uma doença que, felizmente, pode ser tratada.

Ao contrário da hiperatividade, que, normalmente é hereditária, a síndrome do pensamento acelerado é provocada pelas circunstâncias desse nosso ritmo alucinante no qual vivemos no mundo atual. A criança começa a sofrer as primeiras consequências da agitação do mundo ainda no útero materno. As circunstâncias que cercam a mãe não passam despercebidas ao feto. Assim que nasce a criança é submetida a um sem número de estímulos para desenvolver mais rapidamente a sua inteligência. Com dois anos já está pegando vez ou outra o celular da mãe, o tablete do pai, sem contar o contato quase permanente com a televisão. Entre os três e quatro anos já ensina os avós a manipularem o tablete com joguinhos nem sempre fáceis para os idosos.

Por sua vez a televisão eliminou os fantasmas que os mais velhos temiam tanto quando crianças e gerou um mundo de super-heróis para os quais nada é impossível. A força pode vir de um anel, de um relógio ou de uma simples evocação, não de uma elaboração lenta, gradual e sistemática do aprendizado. Por outro lado, existem também os desenhos educativos, levando as crianças de três a quatro anos a aprenderem números, letras e um vocabulário surpreendente. E quanto mais vão avançando em idade, maior o número de informações, a ponto de se admitir atualmente que uma criança com 7 anos detém muito mais informações do que detinha um imperador romano do apogeu do exercício de seu poder.

Por seu turno a exposição quase que permanente da criança ao marketing que acompanha os programas infantis, leva-a a pedir constantemente novos brinquedos, que sempre precisam ser o mais novo lançamento. Daí as consequências, as crianças pobres se frustram diante desse mundo inatingível para elas e se perdem pelas ruas da amargura, do vício, do tráfico; as crianças abastadas frustram-se igualmente porque o novo passa rápido, os brinquedos se acumulam, já não satisfazem. É preciso mais e mais e perdem-se, porque esse querer mais leva para o caminho de superar tudo, mesmo que seja pelo uso das drogas.

Mundo cruel, quanto mais nos dá mais nos tira. É preciso que os pais estudem e dediquem-se mais às crianças. Mas como? Quando vejo um pai com um criancinha aos ombros assistindo a um clássico do futebol, entendo que esse é o tempo que lhe resta e dispõe para o filho(a), imaginando que aquilo que lhe dá prazer provoca o mesmo sentimento na criança. Se já não se consegue educar dentro do berço, resta como saída a escola, mas os professores também têm as suas limitações; mal remunerados, sem recursos audiovisuais, muitas vezes sem aptidão, pois em boa parte são náufragos de outras profissões mais rendosas, não conseguem compreender essa síndrome do pensamento acelerado e até contribuem para aumenta-la.

É preciso que as crianças vejam o sol se pôr e a lua nascer. Vejam um patinho nadando no lago, ouçam uma história de seus próprios pais, tios, avós. É preciso exercício físico. Há que haver tempo para um abraço, um beijo, uma brincadeira onde haja contato físico entre pais e filhos. É preciso desacelerar, encontrar uma fórmula para sermos felizes e conseguirmos transmiti-la para as nossas crianças. Como diz Cury “Você precisa conquistar aquilo que o dinheiro não compra. Caso contrário será um miserável, ainda que seja um milionário”.

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

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Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
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pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

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2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

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MEDIEVO PORTUGUES: O REI COMO FONTE DE JUSTIÇA NAS CRÔNICAS DE FERNÃO LOPES

Nossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.

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Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

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