A visita e a ciência de ser feliz

Recebo a visita de um tio querido, e temos conversado muito, principalmente fazendo comparações entre a vida nos tempos de nossa infância e juventude e os tempos atuais. Nos intervalos ele lê “12 anos de escravidão” e eu “a ciência de ser feliz”.

Os dois livros e as nossas conversas têm coisas em comum. Ao lembrarmos o passado de nossas famílias, constatamos a abnegação de nossos antepassados, a humildade e paciência na luta pela sobrevivência e pela libertação dos laços que os prendiam a um trabalho extenuante, da mesma forma que Solomon Northup teve essas virtudes para libertar-se da escravidão que lhe fora imposta. Por seu turno, não obstante as dificuldades de nossos antepassados, constatamos a unidade familiar, o convívio amistoso com os vizinhos, a vida simples, mas solidária, inclusive nos mutirões que se fazia para a ajuda mutua. Um modo de vida sem estresse. E é justamente sobre as mudanças comportamentais ocorridas nos últimos cinquenta anos que “a ciência de ser feliz trata”.

Nossa correria é desenfreada, trabalhadores e empresários, ambas as classes precisam trabalhar sempre mais, existe uma disputa surda no mundo moderno, uma corrida estimulada pelo consumismo, de modo que o trabalhador, ouviu que o seu vizinho comprou uma televisão mais moderna, então se vê obrigado a acompanha-lo mesmo que a custa de dividas infindáveis. O empresário que está entre os dois por cento mais ricos do mundo quer chegar ao clube do 1 por cento e esses querem estar entre os 0,1 por cento. Todos buscam a felicidade, evidentemente, mas ao comprar o carro novo, em pouquíssimo tempo ele já não chama a atenção, aquela alegria do momento da compra passa rapidamente e precisamos de um som melhor, de um outro carro, outra reforma na casa ou mesmo uma casa nova.

Com isso os laços sociais se esgarçam, não visitamos sequer os parentes, que dizer dos vizinhos e dos amigos que moram um pouco distante? Já não conversamos, não olhamos nos olhos das pessoas. Tempos atrás, em um jantar de confraternização de uma empresa, minha mulher e eu sentamo-nos diante de um casal e qual não foi a surpresa ao descobrirmos que eram os nossos vizinhos, bem ao lado de nossa casa?

As pessoas desejam aumentar a renda, os países o Produto Interno Bruto, o PIB, ao invés de pensarem em FIB, a Felicidade Interna Bruta. Não é à toa que as doenças têm aumentado na mesma ou até em proporções maiores que os próprios avanços ocorridos na medicina e que a depressão é a doença do século.

A obsessão pelo dinheiro faz do capitalismo uma religião. Desde o ensino médio os jovens começam a se preocupar com o futuro, os pais estimulam os filhos a procurarem cursos que produzam bons rendimentos financeiros. Tempos atrás, fui convidado para proferir uma palestra para os alunos que enfrentariam o vestibular. Aparentemente queriam saber sobre as profissões do futuro, mas na verdade o que pretendiam mesmo era saber qual daria mais retorno financeiro. Tentei mostrar-lhes que a melhor profissão do mundo é aquela que gostamos de exercer, aquela que nos dá prazer, aquela que nos faz feliz, embora nem sempre seja compensadora em termos financeiros. Nunca mais fui convidado para esse tipo de palestra em nenhuma escola preparatória para vestibulares. As pessoas não entendem que um médico sem aptidão jamais será um bom profissional, da mesma forma que um advogado sem vocação jamais será um bom defensor, mesmo que das causas mais nobres. Um professor que teve a sua formação sem ser vocacionado para aquele mister será um péssimo condutor de jovens para a cidadania.

A conexão com nossos semelhantes passou a ser virtual e tende a se agravar. Conectamo-nos com o mundo todo, mas não dizemos bom dia nem aos nossos filhos. Já são muitos exemplos de casas projetadas para que a família se veja o mínimo possível. Estamos deixando de ser entes sociáveis para nos tornarmos extremamente sós. Esquecemo-nos como diz a Dra. Susan Andrews de que “a felicidade derivada de relacionamentos sociais, diferentemente das recompensas monetárias, é mais duradoura, pois não está sujeita às limitações de comparação ou adaptação.

Por tudo isso é que compreendo perfeitamente que uma visita de um ente querido e/ou a leitura de um bom livro, são indispensáveis na busca da felicidade. 

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

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Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

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2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.

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MEDIEVO PORTUGUES: O REI COMO FONTE DE JUSTIÇA NAS CRÔNICAS DE FERNÃO LOPES

Nossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.

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Crônicas: Educação, Cultura e Sociedade

O livro ora apresentado é um apanhado de 104 crônicas, algumas de 1978 e a maioria escrita a partir de 1995 até a presente data. O tema Educação compõe-se de 56 crônicas, outras 16 são relatos descrevendo fábulas ou estórias oriundas da cultura italiana, e os emas Cultura e Sociedade compreendem, cada um, 16 crônicas.

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Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

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[2009] EDIFICANDO A NOSSA CIDADE EDUCADORA

Esse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.

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[1998] Até aqui o Laquicho vai bem: os causos de Liberato Leite de Farias

Ao refletir sobre a importância do contador de causos/narrador para a preservação da cultura, percebe-se que cada vez menos pessoas sabem como contar/narrar, com a devida competência, as experiências do cotidiano. Por quê? Para Walter Benjamin, as ações motivadoras das experiências humanas são as mais baixas e aterradoras possíveis em tempos de barbárie; as nossas experiências acabam parecendo pequenas ou insignificantes diante da miséria e da fragmentação humana, numa constatação que extrapola os espaços nacionais.

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[1991] O MOVIMENTO REIVINDICATÓRIO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL: 1978 - 1988

Momentos de grandes mobilizações têm teito do professorado de Mato do Sul a vanguarda do movimento sindicalista deste Estado. Este fato motivou a realização deste trabalho, que teve como proposta inicial analisar criticamente o movimento reivindicatóno do magistério de Mato Grosso do Sul, na perspectiva de revelar-lhe, tanto quanto possível, o perlil de luta, ao longo de sua palpitante trajetória em busca de melhorias salariais, estabilidade empregatícia e melhoria da qualidade do ensino.

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