Liberdade de expressão e a cultura do ódio

Nossa Constituição de 1988 garante a liberdade de expressão, possibilitando a construção de uma sociedade caracterizada pela pluralidade política, religiosa e cultural. Significa dizer que todos nós podemos opinar livremente sobre os nossos pontos de vista. No entanto não nos é permitido incitar do ódio, o que enseja a responsabilização inclusive criminal.

Nos Estados Unidos a liberdade de expressão tem uma abrangência ainda maior, a Suprema Corte tolera até mesmo pronunciamentos que incitam o ódio, ação que leva a atos condenáveis, como ocorreu na igreja negra de Charleston.

Não obstante a garantia constitucional, será que podemos realmente nos expressar livremente? E se nos expressarmos, encontraremos espaços para divulgar o nosso pensamento? Por outro lado, embora proibidos, será que os discursos de muitos brasileiros não fazem parte do que poderíamos chamar de cultura do ódio?

Parece-me que a hipocrisia acaba se tornando lei maior que a própria Constituição, pois o ódio se espalha pela nosso país, percorrendo um caminho temerário. Já não somos o povo cordial descrito por Sérgio Buarque, mas o povo que chega a se matar por uma simples partida de futebol, que apedreja uma menina por praticar uma religião diferente da sua, que discrimina minorias índios, negros e pessoas com identidades de gênero diferentes são espancadas e até assassinadas.

No livro “A Conquista da América”, Tzvetan Todorov, discute a relação com “o outro” quando da “descoberta” da América. Colombo, negava-se a ouvir os índios e entende-los, porque julgava-os inferiores. Seu julgamento, (dos espanhóis e portugueses) era o que interessava, pouco lhes importava conhecer a cultura diferente que encontraram na América. Controverso em vários outros pontos, o livro parece acertar nesse caso da relação de alteridade, ou seja, a capacidade de colocar-se no lugar “do outro”. Dessa incompreensão, segundo o autor, resultam os genocídios praticados contra os índios.

Além da incapacidade de colocarmo-nos no lugar do outro, por julga-los inferiores, a nossa sociedade leva-nos a um estado de medo constante. Medo de andarmos na rua e sermos assaltados, medo de imigrantes que podem nos tirar o emprego, medo do filho viciar-se em drogas, medo do comunismo, da inflação, das cotas para alunos pobres, da perda de nossa posição social. Enfim, essa gama de medo acaba sendo canalizada pela elite para um só grande medo.

Spielberg em seu filme, transforma o “Tubarão” na síntese do medo, o medo único, por isso é preciso destruí-lo. Da mesma forma o medo do índio tomar nossas terras, do negro conquistar um diploma universitário, de um governante promover igualdade social faz com que a elite burguesa utilize os meios de comunicação em seu poder (leia-se especialmente Globo, Folha, Estadão, Veja etc.) para abertamente ou com artifícios subliminares, fazer com que as demais categorias sociais assimilem o discurso discriminatório que avança até as barreiras do ódio.

No Brasil o tubarão de Spielberg transformou-se no PT e na presidente Dilma. De partido mais amado pelo povo, o PT, já é odiado por 12% dos brasileiros, e a maioria desaprova o governo Dilma. A orquestração desse ódio passa pela ação do inconformado PSDB, pela mídia burguesa e, mais recentemente, pela ação do Juiz Joaquim Barbosa que instituiu a regra do “domínio do fato” e pelo juiz de primeira instância Sérgio Moro, que vasa seletivamente dados que deveriam estar sob segredo de justiça e que prende sem provas objetivas, forçando assim a delação premiada.

Massacrar índios a exemplo de Cortes, pode levar à ocupação de todo um Continente. Exterminar um partido político, pela disseminação da cultura do ódio, pode trazer retrocessos desastrosos, a exemplo da privatização da Petrobrás, o fim das cotas para estudantes, o fim das bolsas que retiram a população carente da miserabilidade, o sucateamento da Universidade Pública e, nesses tempos em que se discute a redução da maioria penal, o fim da esperança de termos o ensino básico integral para tirar o jovem da rua para colocá-lo no mercado de trabalho e não na cadeia.

Também os professores são considerados “o outro” por muitos governantes, não são ouvidos, são considerados uma categoria inferior. E o futuro? 

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

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Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

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2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.

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MEDIEVO PORTUGUES: O REI COMO FONTE DE JUSTIÇA NAS CRÔNICAS DE FERNÃO LOPES

Nossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.

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Crônicas: Educação, Cultura e Sociedade

O livro ora apresentado é um apanhado de 104 crônicas, algumas de 1978 e a maioria escrita a partir de 1995 até a presente data. O tema Educação compõe-se de 56 crônicas, outras 16 são relatos descrevendo fábulas ou estórias oriundas da cultura italiana, e os emas Cultura e Sociedade compreendem, cada um, 16 crônicas.

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Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

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[2009] EDIFICANDO A NOSSA CIDADE EDUCADORA

Esse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.

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[1998] Até aqui o Laquicho vai bem: os causos de Liberato Leite de Farias

Ao refletir sobre a importância do contador de causos/narrador para a preservação da cultura, percebe-se que cada vez menos pessoas sabem como contar/narrar, com a devida competência, as experiências do cotidiano. Por quê? Para Walter Benjamin, as ações motivadoras das experiências humanas são as mais baixas e aterradoras possíveis em tempos de barbárie; as nossas experiências acabam parecendo pequenas ou insignificantes diante da miséria e da fragmentação humana, numa constatação que extrapola os espaços nacionais.

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Momentos de grandes mobilizações têm teito do professorado de Mato do Sul a vanguarda do movimento sindicalista deste Estado. Este fato motivou a realização deste trabalho, que teve como proposta inicial analisar criticamente o movimento reivindicatóno do magistério de Mato Grosso do Sul, na perspectiva de revelar-lhe, tanto quanto possível, o perlil de luta, ao longo de sua palpitante trajetória em busca de melhorias salariais, estabilidade empregatícia e melhoria da qualidade do ensino.

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