Mãe, simplesmente...

 

Cantou Toquinho sobre a mãe: “Ela é a palavra mais linda / Que um dia o poeta escreveu / Ela é o tesouro que o pobre / Das mãos do Senhor recebeu”.

As primeiras mães humanoides provavelmente tratassem os seus filhotes tão somente pelo instinto, que até hoje, guia os animais não racionais na preservação da espécie. Há quem diga, inclusive, que as regras menstruais das mulheres, num passado remoto, servia como uma espécie de feromônio (substância química) que atraia o macho para a cópula. Se isso for correto, é óbvio que a menstruação perdeu essa função há muito.   Com o transcorrer da evolução de nossa espécie, houve o desenvolvimento da inteligência racional e da inteligência emocional, nascendo daí aquilo que é uma palavra curta, mas significativa, doce, a palavra transcendental: o amor.

Camões disse que “Amor é um fogo que arde sem se ver;/ É ferida que dói, e não se sente;/ É um contentamento descontente;/ É dor que desatina sem doer”.

Não estou seguro de que esse amor emoldurado por Camões tenha sido inspirado no amor materno, talvez não, mas de qualquer forma me parece válido. A mulher grávida, ainda futura mãe, já se torna mais bela e meiga, acaricia o que se encontra em seu ventre e conversa com o feto, inspirando-lhe confiança, transmitindo-lhe mensagens ternas na esperança de que nasça bom e saudável.

Mas é o próprio Camões, já citado, em um outro soneto, que nos previne de que “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, / Muda-se o ser, muda-se a confiança:/ Todo o mundo é composto de mudança, / Tomando sempre novas qualidades. /

A mãe de hoje já não pode mais ser a mãe de outrora, que mantinha a criança junto ao peito durante os primeiros meses de vida, depois acompanhava os seus primeiros passos, as suas primeiras aulas. Hoje, a mãe trabalha praticamente durante toda a gravidez e as menos afortunadas sacolejam em ônibus superlotados. Nascido o rebento, os poucos meses de licença que as mulheres conquistaram passam rapidamente e elas, na maioria das vezes, já não podem contar com as avós, que também têm as suas ocupações trabalhistas.

Pobres mulheres, não as de Atenas, como cantava Chico Buarque, mas pobres mulheres contemporâneas que, como as de Esparta, que entregavam os filhos aos cuidados dos governantes daquela Cidade Estado para serem preparados, principalmente para a guerra, agora entregam as suas crianças aos Centros de Educação Infantil, quando há um disponível.

É, mudam-se os tempos. Mudam-se também os questionamentos. Será que as crianças das creches não crescem carentes do amor maior que pode existir, que é o amor materno? Ou será que o amor materno também está sofrendo mudanças e já não é como dantes?

“Os tempos vão tomando novas qualidades”, e eu aqui me lembrando de quando tinha meus doze anos: fui com meu pai até o empório do Nestor para comprarmos uma panela de pressão marca Rochedo para a minha mãe. Hoje, talvez nenhum filho pense em dar um utensílio doméstico para sua mãe, mas àquela época, meu pai, meu irmão e eu sentimo-nos felizes e tinha que ver a expressão de alegria de nossa mãe. Cozinhar o feijão em uma panela de pressão, àquela época, era retirar um pouco das algemas das mulheres que viviam ao fogão de lenha durante horas e horas porque o feijão não cozinhava.

Ainda hoje, a panela, com os seus 55 anos, está guardada, mas muito mais que uma panela, o que guardo com saudades é o reconhecimento pelo profundo amor que minha mãe dedicou aos seus dois únicos filhos.

De certa forma, não só o ventre que nos gerou deu-nos uma mãe, mas a pátria onde nascemos também é considerada a grande mãe de todos os seus habitantes, não fosse assim, o Hino Nacional não diria “Dos filhos deste solo és mãe gentil”.

Mas muitos se corrompem, sonegam, escandalizam. E, pior, a maioria do atual Congresso atua de forma odiosa e reacionária, sem a preocupação de que derrotando o governo estão derrotando a todo o povo. Aumentar a idade para a aposentadoria dos ministros do Supremo é golpe sujo. A diminuição da maioridade é a penalização dos jovens que não receberam a educação que é dever do Estado. E o quer dizer da autonomia plena que se pretende dar a delegados da Polícia Federal?  E a terceirização para os trabalhadores brasileiros, que está rasgando a Consolidação das Leis do Trabalho e a própria Constituição da República?

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

Voltar

Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

Abrir arquivo

2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.

Abrir arquivo

MEDIEVO PORTUGUES: O REI COMO FONTE DE JUSTIÇA NAS CRÔNICAS DE FERNÃO LOPES

Nossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.

Abrir arquivo

Crônicas: Educação, Cultura e Sociedade

O livro ora apresentado é um apanhado de 104 crônicas, algumas de 1978 e a maioria escrita a partir de 1995 até a presente data. O tema Educação compõe-se de 56 crônicas, outras 16 são relatos descrevendo fábulas ou estórias oriundas da cultura italiana, e os emas Cultura e Sociedade compreendem, cada um, 16 crônicas.

Abrir arquivo

Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

Abrir arquivo

[2009] EDIFICANDO A NOSSA CIDADE EDUCADORA

Esse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.

Abrir arquivo

[1998] Até aqui o Laquicho vai bem: os causos de Liberato Leite de Farias

Ao refletir sobre a importância do contador de causos/narrador para a preservação da cultura, percebe-se que cada vez menos pessoas sabem como contar/narrar, com a devida competência, as experiências do cotidiano. Por quê? Para Walter Benjamin, as ações motivadoras das experiências humanas são as mais baixas e aterradoras possíveis em tempos de barbárie; as nossas experiências acabam parecendo pequenas ou insignificantes diante da miséria e da fragmentação humana, numa constatação que extrapola os espaços nacionais.

Abrir arquivo

[1991] O MOVIMENTO REIVINDICATÓRIO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL: 1978 - 1988

Momentos de grandes mobilizações têm teito do professorado de Mato do Sul a vanguarda do movimento sindicalista deste Estado. Este fato motivou a realização deste trabalho, que teve como proposta inicial analisar criticamente o movimento reivindicatóno do magistério de Mato Grosso do Sul, na perspectiva de revelar-lhe, tanto quanto possível, o perlil de luta, ao longo de sua palpitante trajetória em busca de melhorias salariais, estabilidade empregatícia e melhoria da qualidade do ensino.

Abrir arquivo

Contato

Informações de Contato

biasotto@biasotto.com.br