O homem que foi mais herói: o 21 de abril

                 

 

Os impostos, assim chamados porque não são pagos espontaneamente, são velhos conhecidos dos brasileiros. Portugal, impunha-nos, por exemplo, o pagamento do quinto do ouro para a Coroa. Os brasileiros achavam muito imposto e iniciaram a sonegação (hoje estratosférica), o que implicou na aplicação do derrame que era a cobrança feita diretamente nas oficinas de fundição.

Os 20%, ou seja, a quinta parte do ouro extraído no Brasil era levada para a Metrópole nas chamadas “naus dos quintos”. Daí, quando se desejava mandar alguém para longe, usava-se dizer “vá para os quintos” expressão à qual posteriormente se acrescentou “infernos”.

Em 1789, impedidos de sonegar e cansados de pagar o quinto, os mineiros resolveram fazer uma conspiração, muito bem retratada na música “Tiradentes”, escrita em 1966 por Chico de Assis e Ary Toledo:

 “Foi no ano de 1789, em Minas Gerais que o fato se deu // E havia derrame do ouro (...) Esse ouro ia longe distante passava o mar, ia para Portugal para rei gastar (...) o mineiro garrou a pensar: se esse ouro que é ouro da terra e de nossa terra porque é que se vai (...) se juntaram numa reunião e resolveram fazer uma conspiração (...) Manoel da Costa, Antonio Gonzaga e Oliveira Rolim e tem mais um nome, o nome do homem que foi mais herói esse fica pro fim. E o nome do homem que foi mais herói, aprenda quem quiser, Joaquim José da Silva Xavier”.

 Cem anos após a sua morte, proclamada a República, Tiradentes tornou-se o herói que encarnava os ideais republicanos. Justa homenagem, e não obstante alguns historiadores entenderem que ele foi um mito criado, tudo indica que Tiradentes tenha sido o inconfidente que mais se aproximava do povo e que, de fato, acreditava e lutava por um Brasil livre. Além do mais foi o único que pagou com a própria vida. Enforcado, teve o seu corpo esquartejado e dependurado. Tristes tempos que vez ou outra reinventa-se nas ditaduras sanguinárias que acontecem mundo afora. 

Brecht disse pela boca de Galileu: “Pobre do povo que precisa de herói”, mas quiçá pobre também é o povo que possui os seus Silvério dos Reis.

Bem, não se pode deixar de salientar que se um herói pode ser criado para enaltecer determinado momento histórico, da mesma forma o traidor pode ser visto como herói pelo lado que ele favoreceu. Imagens podem ser construídas ou desconstruídas, dependendo das circunstâncias e do partido que a Mídia toma.

Essa questão de assumir a responsabilidade por um ato considerado conspiratório faz-me lembrar de meus tempos ginasianos. Quando algum colega fazia uma estripulia qualquer e o professor(a) não dava conta de identificar o autor, vinha o inspetor, depois o diretor, mas o silêncio era total.  Às vezes ficávamos sendo inquiridos até após o sinal para a saída da escola e a consequência eram dois ou até três dias de suspensão. Mas pelo menos essa minha turma, provavelmente a grande maioria de minha geração não gerou delatores, ao contrário de muitos Inconfidentes que ficavam se acusando mutuamente. Atualmente as deleções se ampliaram, as próprias Leis as favorecem e raros são os que suportam sofrer calados pelos seus atos.  Delatam tudo e todos e, em alguns casos, delegados, a exemplo do Dr. Moro, cuidam de divulgar delações ou prender estrategicamente envolvidos para manter o caso que investiga em evidência.

Quanto a Tiradentes, herói ou mito, sei dizer que no dia 21 de abril teremos um feriado nacional. O país para e as pessoas se lembram de que 226 anos atrás alguém morreu por um ideal. Ideal que resta a poucos pois está sendo destruído por uma mídia que se substitui a Silvério dos Reis e traí a democracia e por um sistema onde somente tem valor aqueles que possuem meios para consumir.

Por conveniente vale lembrar um samba enredo de 1949, de autoria de Mano Décio da Viola, Estanisláu Silva e Penteado.Com letra relativamente fácil, como devem ser os sambas para enredo, foi cantado por muitos, inclusive Elis Regina e Chico Buarque de Holanda:

 “Joaquim José da Silva Xavier // Morreu a vinte e um de abril // Pela independência do Brasil / Foi traído e não traiu jamais // A Inconfidência de Minas Gerais // Joaquim José da Silva Xavier // Era o nome de Tiradentes // Foi sacrificado pela nossa liberdade // Este grande herói // Pra sempre há de ser lembrado.  

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

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