Em homenagem ao 1º de abril.

 

Liberato Leite de Farias, o Laquicho, não obstante concorrer com contadores de causos excepcionais como o Dr. Nelson de Araujo, o Coronel Ponciano, Major Capilé e tantos outros, foi dentre eles uma espécie de campeão dos campeões. Seus causos ultrapassaram as fronteiras do então estado de Mato Grosso e espalharam-se Brasil afora e, talvez por isso, fosse considerado um dos maiores contadores de causos dos pais. Laquicho nasceu em Frutal, Minas Gerais em 1868 e veio para Dourados em 1898 onde faleceu em 5 de março de 1946, com bem vividos 68 anos.  Era casado com Dona Amélia Luiza de Freitas, a Melica, com quem teve 15 filhos.

Homem sério, honesto, trabalhador, nunca ria quando contava um caso de modo que parecesse mesmo tudo real. Pois bem, como daqui a quatro dias teremos o dia 1º de abril, consagrado à mentira, vou me antecipar um pouco e contar-lhes um dos mais bem elaborados causos de Laquicho dentre os 83 que reuni em um livro chamado: “Até aqui o Laquicho vai bem: os causos de Liberato Leite de Farias”. Leia o livro inteiro em www.biasotto.com.br. Afinal, bem melhor um causo do que as falácias que tenho lido em nossa mídia.

No caminho de Mato Grosso a Minas, contava-se a história de um potro indomável, um cavalo aporreado. Ninguém parava em cima; era um cavalo guerreiro, até a maneira dele pular era diferente, não ficava pulando e rodeando: ele seguia em linha reta, corcoveando, ladeando. Não tinha como ficar em cima. Por isso o cavalo ganhou grande fama. Dizem que tinha matado uns oito peões. Laquicho ficou sabendo dessa história no pernoite que fez em uma fazenda, quando ia buscar Melica. Após o jantar, todos sentados na varanda da fazenda, os fazendeiros e os vizinhos não tinham outro assunto, todos falavam no majestoso tordilho. No outro dia, ao despedir-se, Laquicho agradeceu aos hospedeiros e prometeu: na volta de Minas passaria por lá novamente e montaria o potro indomável. Só não o fazia naquele momento porque tinha um compromisso muito maior: buscar Melica. Dito e feito. Num sábado, pela hora do almoço, Laquicho chegou com a companheira. Almoçaram, descansaram um pouco e o Laquicho foi logo dizendo que queria cumprir a sua promessa. Perguntou onde estava o tordilho. O fazendeiro, sem muito entusiasmo, pois aquele não seria o primeiro vivente disposto a montar o potro, pediu que o Laquicho esperasse até o domingo. Nesse dia toda a vizinhança se reuniria ali na expectativa de que alguém se aventurasse a montar o tordilho. Tarde de domingo. Peões, moças bonitas, a vizinhança toda ali na fazenda. Parecia um dia de festa. O cavalo estava preso no curral, mas ninguém conseguia laçá-lo. Então o Laquicho falou: “Olha, vou deixar a porteira semiaberta e ficar em cima, vocês soltem o bruto, quando ele passar eu saio em cima”. Assim foi feito. Quando os peões livraram um caminho no curral, o tordilho saiu desembestado. Ao passar pela porteira, o Laquicho caiu-lhe no lombo. Incrível! Tamanha era a rapidez do cavalo que ninguém soube explicar como Laquicho conseguiu essa proeza, ainda mais montado em pelo, sem rédea, sem nada. O certo é que a plateia pouco vira. O cavalo disparou deixando um rastro de poeira. A peonada presente, a maior parte com os cavalos encilhados, saiu atrás. “Já caiu” – diziam uns. “Vamos pegar logo” – repetiam outros. Foi indo, foi indo, a turma começou a se preocupar... Laquicho também estava preocupado. Não preocupado consigo, pois apesar dos corcoveios do cavalo, se aguentava bem. Sua preocupação era com Melica. O que estaria ela pensando lá no meio daquela gente, todos estranhos? Ele logo imaginou que, com toda a certeza, a peonada sairia atrás dele. Então, o que fez? Começou a deixar recado. Quando encontrava um lugar propício, em cada corcoveada, cada ladeada que o cavalo dava, ele, com o dedão do pé, escrevia na areia: “Até aqui o Laquicho vai bem”. Seguindo os recados, os peões perceberam que o cavalo estava cansando: o último recado estava em letras góticas, sinal de que o Laquicho tivera tempo para caprichar na letra. Mais um pouco, a peonada encontrou o Laquicho com um lenço, enxugando o suor da cara do cavalo, que deitara exausto. Enquanto a plateia o cumprimentava pela ideia de escrever “Até aqui o Laquicho vai bem”, ele lembrou-se de que era analfabeto. 

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

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Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

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2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

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