Um sonho menor do que a realidade

 

Diz o anedotário que Getúlio Vargas solicitava aos representantes dos estados da federação a elaboração de uma lista tríplice da qual ele escolhia o governador. Os representantes de Minas apresentaram a lista à qual Getúlio examinou e pediu que fosse acrescentado um quarto nome. A comissão aquiesceu e então o presidente foi enfático: pronto está escolhido o novo governador de Minas.

Nas Universidades públicas brasileiras, para a escolha de reitores e diretores de campus, os presidentes da República, até FHC, nem precisavam se dar ao trabalho de solicitar o acréscimo de um nome pois a lista ao invés de tríplice era sêxtupla e, portanto, dificilmente não estaria nela incluído um nome que lhes agradasse. No CEUD, hoje UFGD, as listas sêxtuplas eram encaminhadas ao reitor que escolhia quem bem entendesse chegando-se ao cúmulo de certa vez ter sido escolhido o quinto colocado e em outras a lista ser devolvida e nomeado um diretor ou chefe de departamento à revelia da vontade da comunidade universitária.

Atualmente a Lei estabelece que a lista deve ser tríplice e que se pode fazer uma consulta à comunidade universitária estabelecendo-se que os votos dos professores têm peso de 70% e o de técnicos administrativos e acadêmicos 15% cada. Mas as universidades têm a prerrogativa de escolher a forma de consulta podendo o voto ser universal, paritário ou com os pesos acima mencionados. Universidades mais conservadoras ainda mantem o peso de 70% para os docentes o que significa dizer que tanto faz os outros segmentos votarem ou não. Já a UFGD, uma Universidade democrática faz a consulta valendo-se do voto paritário, ou seja, o voto de cada seguimento (docente, técnico-administrativo e discente) tem o mesmo peso: 33,33%.

Conto esses pormenores aos leitores em primeiro lugar porque está em andamento um processo eleitoral que culmina com a eleição para reitor no dia 26 de março e, em segundo, para que possam perceber que a UFGD, além de preparar tecnicamente os seus quadros, abre-lhes a possibilidade de participarem ativamente da vida acadêmica, tornarem-se corresponsáveis pelos destinos da instituição, além, evidentemente, de proporcionar um enorme aprendizado no campo da cidadania. É verdade que algumas Universidades brasileiras ainda têm a ideia de que os professores são as cabeças pensantes e que portanto cabe-lhes decidir a eleição. Outras dizem que os estudantes são passageiros, não tendo responsabilidade sobre o destino da instituição onde estudam.

São passageiros é verdade, mas intelectualizados, participam dos debates, fazem propostas e, por isso, acabam responsabilizando-se pelos rumos de sua instituição. E quantos e quão esclarecedores são os debates, as plenárias, as discussões enfim, que desvelam as virtudes e os problemas da Universidade.

Quando digo, no título dessa crônica que o sonho foi menor do que a realidade, não me refiro apenas às edificações, construídas ao longo dos dez anos de UFGD. As 72 entidades que participaram do projeto “Cidade Universitária” sabem que a planta de edificações tinha muito menos prédios do que os agora existentes. Refiro-me também à qualidade do ensino, inclusive de Medicina, o qual muita gente pensava que seria de baixa qualidade, a ponto inclusive de ter havido uma tentativa de levar os alunos para Campo Grande. Refiro-me à vertiginosa expansão de cursos, tanto de graduação, quanto de pós, com mestrado e doutorado em pelo menos dezoito áreas do saber. Refiro-me à gestão democrática, pois os diretores das faculdades são eleitos pelos seus pares e empossados independentemente da posição que ocupam em relação à administração central.

Dia desses disse a um jovem que a UFGD em dez anos cresceu cem vezes mais que o CEUD/UFMS em 31 anos e então ele me perguntou se seu acreditava que ela em outros dez anos estaria entre as dez melhores universidades brasileiras. Respondi-lhe que acreditava, mas que dependia de quem fosse o próximo reitor e o próximo presidente da república, pois na época de FHC a Universidade brasileira chegou ao fundo do poço.

Enquanto essas maravilhas acontecem na UFGD as forças conservadoras de Dourados organizam-se atraindo para a nossa cidade seus semelhantes de inserção nacional, para chamar o povo para as ruas insistindo na ideia de um terceiro turno.  

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

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Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

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2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.

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MEDIEVO PORTUGUES: O REI COMO FONTE DE JUSTIÇA NAS CRÔNICAS DE FERNÃO LOPES

Nossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.

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Crônicas: Educação, Cultura e Sociedade

O livro ora apresentado é um apanhado de 104 crônicas, algumas de 1978 e a maioria escrita a partir de 1995 até a presente data. O tema Educação compõe-se de 56 crônicas, outras 16 são relatos descrevendo fábulas ou estórias oriundas da cultura italiana, e os emas Cultura e Sociedade compreendem, cada um, 16 crônicas.

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Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

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[2009] EDIFICANDO A NOSSA CIDADE EDUCADORA

Esse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.

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[1998] Até aqui o Laquicho vai bem: os causos de Liberato Leite de Farias

Ao refletir sobre a importância do contador de causos/narrador para a preservação da cultura, percebe-se que cada vez menos pessoas sabem como contar/narrar, com a devida competência, as experiências do cotidiano. Por quê? Para Walter Benjamin, as ações motivadoras das experiências humanas são as mais baixas e aterradoras possíveis em tempos de barbárie; as nossas experiências acabam parecendo pequenas ou insignificantes diante da miséria e da fragmentação humana, numa constatação que extrapola os espaços nacionais.

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[1991] O MOVIMENTO REIVINDICATÓRIO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL: 1978 - 1988

Momentos de grandes mobilizações têm teito do professorado de Mato do Sul a vanguarda do movimento sindicalista deste Estado. Este fato motivou a realização deste trabalho, que teve como proposta inicial analisar criticamente o movimento reivindicatóno do magistério de Mato Grosso do Sul, na perspectiva de revelar-lhe, tanto quanto possível, o perlil de luta, ao longo de sua palpitante trajetória em busca de melhorias salariais, estabilidade empregatícia e melhoria da qualidade do ensino.

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