A Terceira Grande Guerra

 

Ao longo de meus estudos de graduação e pós graduação, tive muito mais professores de direita que de esquerda, inclusive na USP, que segundo se diz, as Ciências Humanas e Sociais são celeiros de esquerdistas. Não me influenciaram, no entanto, provavelmente porque a minha origem campesina, na qual prevalece a solidariedade humana, tenha induzido-me a ser mais receptivo às concepções de esquerda. Não dá para me reportar a todos eles, mas cito em passant um docente de história econômica que nos indicou a leitura de um tal Cameron (não sei das quantas) que defendia a tese de que deveríamos torcer para que os Estados Unidos se desenvolvem celeremente para repassarem ao Terceiro Mundo as suas conquistas secundárias. Isso à parte, vou deter-me um pouco mais nas teses de um professor da graduação, este, um imperialista do qual não me esqueço: Paulo Henrique. Escreveu “Brasil e ferrovias”, um livro que realmente mereceria ser levado à sério, afinal, esse nosso país continental deveria estar entrecortado por ferrovias, transporte muito mais barato do que o executado em nossas rodovias. Mas escreveu também uma outra obra: “o Brasil e as Guianas”, na qual defendia a anexação pelo Brasil, não só da Guiana Francesa, que fora brasileira, quando das Guerras Napoleônicas, como também do Uruguai, a Província Cisplatina, que também fora ocupado pelo Brasil e, pasmem, defendia ainda a anexação do Paraguai que, segundo ele, deveria ser coisa líquida e certa.

Não paravam por aí as teses desse meu professor, o qual felizmente não segui. De acordo com ele, a Terceira Grande Guerra seria uma guerra entre raças. O perigo seria Amarelo, referindo-se especialmente à China que, àquela época, tinha um milhão de habitantes, capazes de enfrentar inclusive bombas atômicas, mesmo que morressem aos milhares. Seria um combate entre a tecnologia mais avançada dos Brancos do Ocidente contra a densidade populacional Amarela. Boquiabertos, não questionávamos se a África Negra entraria nessa guerra.

Essas teses, evidentemente, caducaram, mas eis que surge uma nova pseudo-ameaça: uma jihad Muçulmana, uma Guerra Santa do Islão, como uma espécie de revanche em relação às Cruzadas que os cristãos realizaram (365 se não me falha a memória), na tentativa de recuperar as terras outrora cristãs e que foram conquistadas pelos islamitas, a partir do início do sétimo século da Era cristã, inclusive e principalmente Jerusalém.

Tudo soa absurdamente factível. Da mesma forma que os Estados Unidos perderam a guerra para as guerrilhas vietnamitas, parece que o terror islâmico ameaça o Ocidente. Não escaparam a Espanha, Alemanha e, recente, a França. “Je suis Charlie”, tornou-se sinônimo de liberdade de expressão. Coisa intrincada: os muçulmanos (islâmicos é a mesma coisa, pois Mussul e Islã significam resignação à vontade de Alá) não aceitam quaisquer representações imagéticas de Maomé, o profeta.

Os iconoclastas cristãos, considerados heréticos, foram destruidores de imagens e os Evangélicos, da mesma forma que os Islamitas, não referenciam imagens, especialmente, não reverenciam Nossa Senhora, para os Católicos Romanos, a Medianeira de todas as graças. Por isso, deveria haver uma guerra entra Católicos e Evangélicos?

Em minha humilde opinião, estamos anos luz distantes de uma Terceira Guerra Mundial, mas preocupa-me todo o tipo de preconceito, tanto racial quanto religioso. Tive alunos Muçulmanos, vários. Ensinaram-me bastante sobre o Alcorão (para mim Corão, pois al é artigo), e, quando certa vez citei “Os Prolegômenos” de Ibnin Kaldun, uma aluna trouxe a obra e, inclusive, realizou um seminário explicando-a.

Oh! deuses do Olimpo Grego, deuses pagãos do Império Romano, Buda, Brahma, Alá, Cristo Jesus, uni-vos, eu lhes peço, para dar à humanidade sabedoria suficiente para que percebamos, como disse Exupéry, no “Pequeno Príncipe”, que as diferenças é que nos enriquecem.

Surpreendo-me. A história surpreende-me. “Je suis Charlie”, defendo a liberdade de expressão, mas “Je ne suis pas Charlie”, defendo também o respeito ao direito de as religiões acreditarem em seus deuses. Respeito também os ateus, que não acreditam em deuses. Afasto-me de qualquer forma de extremismo. Enfim, estou confuso, mas não tenho a mínima intenção de habitar a Lua ou Marte. Desejo continuar habitando o Planeta Azul, mas com paz, que se faz com educação humanista, não a Terceira Guerra, seja entre raças ou religiões.

    

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