Que tudo se realize...

 

Lá se vão 40 anos desde a apresentação de “Reflexo” pelo Teatro Universitário de Dourados – TUD. Peça de caráter existencialista lembrava “Entre Quatro Paredes”, de Jean Paul Sartre, onde o inferno são os outros. O autor, José Luís Sanfelice, na UNICAMP desde 1978, foi feliz na escolha do nome da peça, pois ela procurava ser realmente um reflexo de nossas vidas e da nossa sociedade. Começava com um ator, ao som de “2001, uma Odisseia no Espaço”, arrebentando uma espécie de tubo de ensaio e solenemente proclamando: “ainda não sou, estou sendo construído dentro de uma nova Era. Era onde o irreal se torna possível”.

A sede do município de Dourados não abrigava então mais do que 40 mil almas. O prefeito era Totó Câmara, substituído por José Elias, que teve a feliz ideia de contratar Jaime Lerner para fazer o Plano Diretor da cidade. Muito daquele plano perdura, mas a lei que proibia a construção de edifícios com mais de quatro pisos, infelizmente, foi revogada, colocando os humanos com os pés mais longe do solo sagrado da mãe Terra. Mas isso acaba sendo de somenos, importa lembrar que Dourados palpitava, se é que uma cidade palpita; muitos de seus moradores olhavam para além do horizonte vislumbrando o seu desenvolvimento que, de fato, se concretizou. Hoje, com mais de 200 mil habitantes, Dourados tornou-se uma metrópole regional, atraindo milhares de turistas das cidades circunvizinhas e de todo o Brasil, interessados nas compras, tanto do comércio quanto da indústria, e nos estudos.

Dourados, nos últimos 40 anos, quintuplicou o número de habitantes enquanto que as cidades do interior paulista no máximo duplicaram. Passei por dezenas delas nessas férias, especialmente na região araraquarense. Notei que se não cresceram em população, cresceram em qualidade de vida. Nelas não se encontram buracos no asfalto, as ciclo faixas estão na pauta do dia, inclusive em cidades com morrarias. Algumas cidades conservam ainda as suas rotatórias, coisa considerada obsoleta em nossa cidade. Em Araraquara, observei como já havia visto outrora em Londrina, que elas perderam o seu caráter de regular o tráfego, pois foram instalados semáforos em suas passagens, no entanto foi preservada a beleza de seus jardins. Em Catanduva, também as rotatórias foram mantidas, as maiores, inclusive, nas entradas e/ou saídas da cidade, foram ornamentadas com belas fontes luminosas.

Causa prazer a limpeza dessas cidades e também a feliz ideia de transformar as lombadas de concreto em passagem para pedestres. Por falar nessas passagens, impressionou-me o respeito dos motoristas em relação aos pedestres. Em uma cidade do litoral Norte de São Paulo tive a curiosidade de verificar placas de carros: representavam centenas e centenas de cidades brasileiras e eu pensei com os meus botões se fariam o mesmo quando regressassem para as suas respectivas cidades. Ora, ora, imaginei, se de fato o litoral educa, basta que todos os motoristas brasileiros dirijam-se até a beira-mar para resolvermos esse sério problema de trânsito.

De volta para Dourados, trafegando esse mundão de Brasil por estradas bem conservadas, inclusive em nosso Estado, tenho a alegria de verificar as gritantes diferenças ocorridas nesses últimos 40 anos. Confesso que antigamente era de dar desespero voltar de férias. Se não fosse um poeirão vermelho, era a lama que invadia as ruas devido à falta de asfalto e de galerias de águas pluviais. Muito mudou, para melhor, no entanto, ainda temos um longo caminho a percorrer para não sermos apenas uma cidade que cresce em população, mas também que ofereça ao seu povo um Índice de Desenvolvimento Humano proporcional ao seu crescimento vegetativo.

               Otimista inveterado, desejo, como na música, “que tudo se realize no ano que vai nascer...” Desejo uma cidade humanizada, onde carros e motos sejam meros meio de locomoção e não os novos dominadores do povo. Desejo uma cidade na qual a saúde e a educação sejam instrumentos de dignificação do ser humano. Uma cidade na qual todo espaço público seja utilizado para a convivência feliz e educadora. Enfim, como o personagem da peça, que seja uma cidade ainda em construção, mas que busque tornar possível o que ainda hoje é irreal, ou seja, uma cidade onde reine a paz, a fraternidade, a justiça e a igualdade. 

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

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Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

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2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.

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MEDIEVO PORTUGUES: O REI COMO FONTE DE JUSTIÇA NAS CRÔNICAS DE FERNÃO LOPES

Nossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.

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Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

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[2009] EDIFICANDO A NOSSA CIDADE EDUCADORA

Esse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.

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Ao refletir sobre a importância do contador de causos/narrador para a preservação da cultura, percebe-se que cada vez menos pessoas sabem como contar/narrar, com a devida competência, as experiências do cotidiano. Por quê? Para Walter Benjamin, as ações motivadoras das experiências humanas são as mais baixas e aterradoras possíveis em tempos de barbárie; as nossas experiências acabam parecendo pequenas ou insignificantes diante da miséria e da fragmentação humana, numa constatação que extrapola os espaços nacionais.

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Momentos de grandes mobilizações têm teito do professorado de Mato do Sul a vanguarda do movimento sindicalista deste Estado. Este fato motivou a realização deste trabalho, que teve como proposta inicial analisar criticamente o movimento reivindicatóno do magistério de Mato Grosso do Sul, na perspectiva de revelar-lhe, tanto quanto possível, o perlil de luta, ao longo de sua palpitante trajetória em busca de melhorias salariais, estabilidade empregatícia e melhoria da qualidade do ensino.

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