Para que servem os governos, afinal?

 

Na década de 1970, vivíamos ainda a Guerra Fria, período de confronto político, econômico e ideológico entre URSS e EUA. Também nessa época as Igrejas Evangélicas ganhavam espaços consideráveis. As cabeças jovens se inquietavam. Para que lado pender? Foi nesse contexto que um aluno testou-me perguntando: por que o vaticano não derrete o trono de ouro que possui e distribui essa imensa riqueza para os pobres?

Pelo que eu soubesse, o papa nunca teve trono de ouro e sim de madeira com cobertura de bronze dourado, mas e se tivesse um trono de ouro maciço? Expliquei ao ansioso aluno que se houvesse um trono de ouro e fosse derretido e doado aos pobres, eles poderiam saciar a fome por uma semana, um mês talvez, depois tudo voltaria a ser como dantes no quartel de Abrantes. A pobreza são se erradica com uma ou outra doação, mas com políticas públicas.

Assim como as da União Soviética? Replicou o aluno, desafiando-me a tomar partido. Professor sofre, ainda mais recém formado e dando aulas em uma faculdade onde a maioria dos alunos eram professores leigos, alguns com vastos conhecimentos pelas experiências práticas.

Respondi-lhe que achava que o socialismo era algo irreversível, mas que não adotava a forma ditatorial como fora implantado; acreditava que o socialismo somente seria possível quando houvesse esgotamento do capitalismo, ou seja, quando as contradições internas desse sistema provocassem, por si, as mudanças, assim como vem acontecendo, por exemplo, com Dinamarca, Suécia, Escandinávia e Suíça.

Passadas quatro décadas, já não sei o que é reversível ou irreversível, mas continuo acreditando que um mundo melhor é possível, que esse mundo depende de todos nós, mas especialmente dos governantes que dão rumos às nações. Aos governantes compete tornar a sociedade mais justa e principalmente mais igual.

Os humanos perseguem esse ideal de justiça, mas estamos longe de produzir essa sociedade ainda utópica. Desde quando começou a haver organização social, sempre houve dominadores e dominados. Não falo do comunismo primitivo, uma organização formada muito mais pela necessidade de sobrevivência do que por consciência de igualdade entre os membros da comunidade. Falo a partir de quando passou a haver uma organização social hierarquizada. Do comunismo primitivo passamos para o escravagismo das sociedades antigas, depois pelo feudalismo, atualmente, vivemos sob a égide do capitalismo que, por sua vez, já superou a fase do capitalismo comercial, passou para o industrial, avançou para o capitalismo financeiro, que vigora atualmente, sem nos esquecermos da rápida passagem pela fase neoliberal que nada mais foi do que a radicalização do capitalismo financeiro, transformando o estado social em estado mínimo.

De qualquer forma, vivemos uma democracia, embora imperfeita, e temos o direito de escolher o regime que entendemos ser o melhor para o nosso país. No primeiro turno, tivemos representantes de todos os sistemas políticos já imaginados; agora no segundo turno, teremos a disputa entre duas correntes completamente antagônicas: uma representada pela presidente Dilma, a outra, por Aécio Neves. E, da mesma forma, em Mato Grosso do Sul: uma representada por Delcídio, outra, por Azambuja. Qual escolher? Qual representa os reais interesses do povo?

Aécio e Azambuja são representantes autênticos do PSDB, partido que ideologicamente defende o neoliberalismo, ou seja, a concorrência entre os indivíduos e a menor interferência do estado na economia do país. Para eles é válida ainda hoje a definição de Adams Smith de que existe “uma mão invisível” que regula o mercado.

Dilma e Delcídio representam aquilo que o economista John Keynes chamou de “estado de bem estar social”, ou seja, defendem a interferência do estado na economia de forma que haja o pleno emprego. Essa teoria defende que o estado propicie um padrão digno de vida aos cidadãos.

Esse é o debate que se impõe para o segundo turno. Uma educação pública de qualidade em todos os níveis, ou a privatização do ensino? Uma melhoria no SUS e no SUAS ou a criação de planos particulares de saúde e assistência social?

Que a Justiça e a Polícia cuidem da corrupção, seja de que lado for, mesmo porque se o PT tem rabo de palha, não é menor o do PSDB.  

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

Voltar

Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

Abrir arquivo

2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.

Abrir arquivo

MEDIEVO PORTUGUES: O REI COMO FONTE DE JUSTIÇA NAS CRÔNICAS DE FERNÃO LOPES

Nossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.

Abrir arquivo

Crônicas: Educação, Cultura e Sociedade

O livro ora apresentado é um apanhado de 104 crônicas, algumas de 1978 e a maioria escrita a partir de 1995 até a presente data. O tema Educação compõe-se de 56 crônicas, outras 16 são relatos descrevendo fábulas ou estórias oriundas da cultura italiana, e os emas Cultura e Sociedade compreendem, cada um, 16 crônicas.

Abrir arquivo

Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

Abrir arquivo

[2009] EDIFICANDO A NOSSA CIDADE EDUCADORA

Esse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.

Abrir arquivo

[1998] Até aqui o Laquicho vai bem: os causos de Liberato Leite de Farias

Ao refletir sobre a importância do contador de causos/narrador para a preservação da cultura, percebe-se que cada vez menos pessoas sabem como contar/narrar, com a devida competência, as experiências do cotidiano. Por quê? Para Walter Benjamin, as ações motivadoras das experiências humanas são as mais baixas e aterradoras possíveis em tempos de barbárie; as nossas experiências acabam parecendo pequenas ou insignificantes diante da miséria e da fragmentação humana, numa constatação que extrapola os espaços nacionais.

Abrir arquivo

[1991] O MOVIMENTO REIVINDICATÓRIO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL: 1978 - 1988

Momentos de grandes mobilizações têm teito do professorado de Mato do Sul a vanguarda do movimento sindicalista deste Estado. Este fato motivou a realização deste trabalho, que teve como proposta inicial analisar criticamente o movimento reivindicatóno do magistério de Mato Grosso do Sul, na perspectiva de revelar-lhe, tanto quanto possível, o perlil de luta, ao longo de sua palpitante trajetória em busca de melhorias salariais, estabilidade empregatícia e melhoria da qualidade do ensino.

Abrir arquivo

Contato

Informações de Contato

biasotto@biasotto.com.br