A estrutura subjacente à noticia

Em Ferguson, nos Estados Unidos, um policial matou Michael Brown, jovem negro, desencadeando uma onda de protestos. Na África (Guiné-Conacri, Serra Leoa e Libéria), a epidemia provocada pelo ebola é quase tão assustadora quanto a Peste Negra na Europa Medieval. Em Dourados, o primeiro candidato a visitar nossa cidade (e talvez o único), Aécio Neves, prometeu não mandar dinheiro para Cuba e sim para Porto Murtinho. O plebiscito popular a ser realizado entre 1 a 7 de setembro não terá força de Lei. Saúde pública continua carente. Notícias, nada mais que notícias, informações de fatos isolados, simplesmente. Mas quais as razões estruturais, as causas mais profundas que geram esse noticiário?

A onda de protestos em Ferguson tem como pano de fundo o racismo e o sistema econômico. “Negro bom é o que paga impostos para garantir vida melhor para a elite branca”, foi mais ou menos nesses termos que se pronunciou um dos líderes do movimento.

Em relação ao ebola, os países mais afetados estão passando por um processo de expansão agrícola que destrói a agricultura familiar de subsistência e que leva esses agricultores a procurar alimentos abatendo pequenos animais, como os macacos, que são hospedeiros do vírus transmitido por morcegos. Daí o contágio, que depois se potencializa pela transmissão por contato com as pessoas infectadas. Segundo Jean Batou, o ebola representa a falência moral do capitalismo, o que é endossado pelo professor Daniel Bausch, ao afirmar que a produção de medicamentos para combater o ebola não é técnica e nem científica, mas econômica: a indústria farmacêutica não tem interesse em investir em pesquisa para combater doenças onde predomina a pobreza. Em outas palavras, o que não dá dinheiro não importa.

Quanto à visita de Aécio à Dourados, por trás da notícia, duas situações. A primeira é a de que em sua campanha ele está dando especial atenção à bancada do agronegócio, reforçando a candidatura de Reinaldo Azambuja, que tem um olho para a atual disputa e outro para as eleições de 2018, quando, mais conhecido, poderá concorrer ao senado. A segunda situação foi a sua declaração de que não dará dinheiro para Cuba, mas para Porto Murtinho. Não foi uma gafe, sua fala representa o projeto de transformar o porto de Murtinho em um local para a exportação de grãos, favorecendo o agronegócio do Centro Oeste. Quanto a não mandar dinheiro para Cuba, foi uma contradição, pois da mesma forma que o Porto de Murtinho é importante, Mariel, em Cuba, não representa uma bondade do governo brasileiro e sim a abertura de nosso mercado para 600 milhões de latino americanos.

E o que estaria por trás do plebiscito popular? Ora, além de uma reforma política, fica demonstrada a sabedoria popular brasileira em tentar resolver os nossos problemas com soluções pacíficas. A ideia do plebiscito nasceu das manifestações de julho de 2013, mas o Congresso, cioso de seus privilégios, abortou a sugestão no nascedouro. Então, mais de 330 entidades estão promovendo essa consulta, esperando que 10 milhões de brasileiros se manifestem dizendo sim à convocação de uma Constituinte exclusivamente eleita para promover as reformas necessárias. É visível que em sua expressiva maioria, o Congresso Nacional está constituído por bancadas cujos integrantes têm as suas campanhas financiadas para representarem interesses específicos e não os da população em geral. Sabemos os representantes dos banqueiros, dos ruralistas, dos industriais, dos evangélicos, das entidades desportivas, mas quem representa os bancários, os industriários, os ateus, os desportistas. Cadê a bancada dos pobres, dos marginalizados, dos que não tem voz?

Por fim, subjacente às notícias sempre degradantes sobre a saúde pública, normalmente apontando falta de recursos e de incapacidade gerencial, está também a perversidade do sistema. Eis a contradição: como socializar a medicina, oferecendo assistência médica e hospitalar inteiramente gratuita em um país onde os médicos mais renomados chegam a cobrar mais de mil reais por uma consulta?

Em suma, combatendo a perversidade do capitalismo com políticas sociais e educacionais é que conseguiremos continuar avançando na edificação de uma sociedade mais justa, menos desigual, mais fraterna, menos perversa.

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

Voltar

Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

Abrir arquivo

2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.

Abrir arquivo

MEDIEVO PORTUGUES: O REI COMO FONTE DE JUSTIÇA NAS CRÔNICAS DE FERNÃO LOPES

Nossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.

Abrir arquivo

Crônicas: Educação, Cultura e Sociedade

O livro ora apresentado é um apanhado de 104 crônicas, algumas de 1978 e a maioria escrita a partir de 1995 até a presente data. O tema Educação compõe-se de 56 crônicas, outras 16 são relatos descrevendo fábulas ou estórias oriundas da cultura italiana, e os emas Cultura e Sociedade compreendem, cada um, 16 crônicas.

Abrir arquivo

Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

Abrir arquivo

[2009] EDIFICANDO A NOSSA CIDADE EDUCADORA

Esse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.

Abrir arquivo

[1998] Até aqui o Laquicho vai bem: os causos de Liberato Leite de Farias

Ao refletir sobre a importância do contador de causos/narrador para a preservação da cultura, percebe-se que cada vez menos pessoas sabem como contar/narrar, com a devida competência, as experiências do cotidiano. Por quê? Para Walter Benjamin, as ações motivadoras das experiências humanas são as mais baixas e aterradoras possíveis em tempos de barbárie; as nossas experiências acabam parecendo pequenas ou insignificantes diante da miséria e da fragmentação humana, numa constatação que extrapola os espaços nacionais.

Abrir arquivo

[1991] O MOVIMENTO REIVINDICATÓRIO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL: 1978 - 1988

Momentos de grandes mobilizações têm teito do professorado de Mato do Sul a vanguarda do movimento sindicalista deste Estado. Este fato motivou a realização deste trabalho, que teve como proposta inicial analisar criticamente o movimento reivindicatóno do magistério de Mato Grosso do Sul, na perspectiva de revelar-lhe, tanto quanto possível, o perlil de luta, ao longo de sua palpitante trajetória em busca de melhorias salariais, estabilidade empregatícia e melhoria da qualidade do ensino.

Abrir arquivo

Contato

Informações de Contato

biasotto@biasotto.com.br