O passado como professor no presente

 

Em 1946 foi publicado um livro de Collingwood que se tornou clássico: “A Ideia da História”. Cito de memória uma sua definição: a história é o estudo do passado para melhor se compreender o presente e para se ter uma visão do futuro. Claro que as concepções sobre a história evoluíram, mas não deixa de ter bom fundamento a definição do filósofo e historiador inglês. Olhar para o passado, estudá-lo, compreende-lo, pode nos fazer entender melhor o presente. E quando falo em passado não me refiro apenas aos tempos de antanho, mas ao átimo de tempo que se passou. Significa dizer que tudo é história, que precisamos buscar compreender sim o passado longínquo, mas refletir também sobre o passado recente e mesmo sobre aquilo que acabamos de fazer, pois na verdade, já é passado.

É claro que aos historiadores compete um mais elevado grau de responsabilidade em compreender a história, mas todos os cidadãos deveriam tê-la em consideração para poderem tomar decisões. Quando o senador romano Cícero definiu a história como sendo “mestra da vida”, não estava totalmente desprovido de razão. Embora a história não se repita, ela pode nos orientar. Quando fiz dezoito anos queria comprar um carro velho, mas meu pai foi contundente, não permitiu que eu fizesse a compra. Seu conselho foi graças à história: no passado, ele havia comprado um carro velho e a sua experiência ensinou-o e fez com que ele me ensinasse a evitar o mesmo erro.

Esse exemplo singelo pode ser ampliado para acontecimentos muito mais complexos que podem orientar comportamentos pessoais e coletivos. Não se deveria desprezar quem pode nos auxiliar em nossos destinos.  E o destino coletivo de uma cidade, de um país, na maioria das vezes, é traçado pelas decisões políticas. Compreender a política, significaria errarmos menos na escolha de nossos dirigentes.

E quantos são os eleitores que procuram conhecer a história dos candidatos? Suas origens, suas práticas? Quem procura analisar o real significado dos discursos proferidos pelos candidatos? E, ainda mais, quem procura conhecer a sua ideologia?

“Minhas férias”. Essa era a redação que a minha geração tinha que fazer quando voltava às aulas. A grande maioria fazia referência ao sítio do vovô, do titio, enfim, os moradores das pequenas e médias cidades tinham um pé no campo. Hoje, mesmo nas cidades de porte médio, muitas crianças e jovens nunca viram uma galinha. Pois bem, o que desejo dizer é que o espaço público urbano tornou-se o maior patrimônio que dispomos para substituir os passeios que fazíamos ao sítio do vovô. E quem deve prover as cidades com espaços que nos possibilitem uma vida saudável e feliz? Claro que o caro leitor já percebeu onde quero chegar. Cem reais ou qualquer importância em dinheiro que o eleitor receba para votar em alguém é muito pouco, é insignificante diante da magnitude dos problemas que os políticos têm para resolver. Conhecer a história dos candidatos, saber se ele é um comprador de votos, já é um indício para não se votar nele. Saber se ele construiu obras públicas para beneficiar-se particularmente delas é outro fator importante. Saber de seu passado, se tem as mãos limpas, se honra os seus compromissos, se tem capacidade administrativa, se as suas finanças e os seus bens são compatíveis com o seu trabalho, são algumas das questões que devem ser levantadas pelo cidadão eleitor.

Tudo isso deve ser feito estudando-se a história, e o princípio fundamental da história é buscar a verdade. A verdade pode estar inclusive nas redes sociais, no entanto, cuidado. As redes estão repletas de armadilhas, pessoas de má formação escondem-se no anonimato para botar mentiras em determinados contextos que as fazem parecer verdadeiras.

As eleições estão se aproximando, as sabatinas, debates e a propaganda eleitoral são fatos concretos. Fiquemos atentos, é o nosso futuro que está em jogo. Uma frase pode representar um projeto. Esta do Aécio, por exemplo: Não vai me faltar coragem para tomar todas as medidas necessárias para que o Brasil encerre esse ciclo perverso”, demonstra que ele pretende um modelo diferente do atual que distribui renda, cria universidades, fortalece o mercado interno e internacional, gera empregos, faz do Brasil a sétima potência econômica do mundo. 

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

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Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

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2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.

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MEDIEVO PORTUGUES: O REI COMO FONTE DE JUSTIÇA NAS CRÔNICAS DE FERNÃO LOPES

Nossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.

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Crônicas: Educação, Cultura e Sociedade

O livro ora apresentado é um apanhado de 104 crônicas, algumas de 1978 e a maioria escrita a partir de 1995 até a presente data. O tema Educação compõe-se de 56 crônicas, outras 16 são relatos descrevendo fábulas ou estórias oriundas da cultura italiana, e os emas Cultura e Sociedade compreendem, cada um, 16 crônicas.

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Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

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[2009] EDIFICANDO A NOSSA CIDADE EDUCADORA

Esse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.

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[1998] Até aqui o Laquicho vai bem: os causos de Liberato Leite de Farias

Ao refletir sobre a importância do contador de causos/narrador para a preservação da cultura, percebe-se que cada vez menos pessoas sabem como contar/narrar, com a devida competência, as experiências do cotidiano. Por quê? Para Walter Benjamin, as ações motivadoras das experiências humanas são as mais baixas e aterradoras possíveis em tempos de barbárie; as nossas experiências acabam parecendo pequenas ou insignificantes diante da miséria e da fragmentação humana, numa constatação que extrapola os espaços nacionais.

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[1991] O MOVIMENTO REIVINDICATÓRIO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL: 1978 - 1988

Momentos de grandes mobilizações têm teito do professorado de Mato do Sul a vanguarda do movimento sindicalista deste Estado. Este fato motivou a realização deste trabalho, que teve como proposta inicial analisar criticamente o movimento reivindicatóno do magistério de Mato Grosso do Sul, na perspectiva de revelar-lhe, tanto quanto possível, o perlil de luta, ao longo de sua palpitante trajetória em busca de melhorias salariais, estabilidade empregatícia e melhoria da qualidade do ensino.

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