Mudanças de 360 graus

 

Uma volta de 360 graus, prometeu-me já no corredor da faculdade aquele aluno que estava mal de notas. Bati em seu ombro como quem diz parabéns, pois teria sido indelicadeza afirmar-lhe que se ele desse uma volta de 360º ficaria no mesmo lugar. Ora, quando se deseja um giro radical, ele deve ser de 180º, não de 360. Mas é mais ou menos assim que tem acontecido mundo afora.

A CBF, por exemplo, ao escolher Dunga para ser o novo técnico da seleção fez um giro de 360 graus. A Confederação trabalha em círculo, não procura o novo, continua achando que na hora H os nossos jogadores resolvem a parada e pronto. Não aprenderam absolutamente nada com a derrota. Perder faz parte do jogo e da vida. É preciso aprender a perder e aproveitar a oportunidade para proceder às mudanças necessárias para que o nosso futebol volte a encantar o mundo.

Mas se a seleção perdeu, o Brasil ganhou. Conseguimos mostrar que somos muito mais do que uma pátria de chuteiras. Fizemos uma Copa brilhante e segura, os turistas se foram, mas com aquele gostinho de quero mais, com o desejo de voltar em breve para esse “país tropical abençoado por Deus e bonito por natureza”, onde em fevereiro tem carnaval e em outubro eleições.

Nas próximas eleições, assim como meu ex-aluno e a CBF, tem partido político querendo fazer uma guinada de 360º. Aécio Neves é o exemplo mais lapidar do que estou afirmando. Quer voltar aos tempos de FHC, com o mesmo carcomido discurso de arrocho salarial, minimização da participação do estado na economia, a volta do neoliberalismo. Enfim, já lhe cai bem o apelido de Arrocho Neves. Mas, ao que tudo indica, o povo brasileiro não se deixará levar por esse discurso, ainda mais porque a presidente Dilma (que representa o novo), foi julgada pelo Tribunal de Contas da União e saiu ilesa da questão da compra de Pasadena pela Petrobrás e Aécio, ao contrário, caiu na arapuca que ele mesmo armou ao construir, quando governador de Minas, um aeroporto no sítio de um tio.

Outro exemplo, agora internacional, de uma guinada de 360 graus é o caso da guerra entre Israel e o Hamas. Desde 1947, quando foi instituído o Estado de Israel, repete-se a mesma ladainha, as partes não avançam e nem recuam, trata-se de um típico caso de movimento em círculo. Qualquer querela e lá se vão mísseis, para ambos os lados. Israel leva vantagem, sua indústria virou indústria de guerra. Por sua vez, os palestinos, que nem sequer possuem um estado reconhecido, muito menos armamentos poderosos, estão sendo dizimados aos poucos e o espaço físico que ocupam vai sendo aos poucos anexado por Israel.

A história pode explicar essa situação, pode buscar as causas, detalhar ponto por ponto cada ataque e as suas consequências, tanto de um lado quanto do outro, mas não pode promover a paz. Caberia à ONU essa árdua tarefa, mas quem ouve a ONU? Talvez os Estados Unidos pudessem fazer algo, mas jamais prejudicariam Israel, o seu mais leal aliado no Oriente. O Brasil chamou seu embaixador para esclarecimentos, mas Israel simplesmente acusou o Brasil de colocar-se ao lado do terrorismo (leia-se Hamas) e ainda disse que a atuação brasileira é irrelevante.

Parece-me portanto que aquela região está em um beco sem saída. Em determinado momento de minha carreira acadêmica, quando preparava a minha tese, procurei por teorias que pudessem explicar o comportamento do coletivo medieval. Encontrei e estudei o conceito de “imaginário social”, algo criado pela imaginação e incorporado via história-cultura ao inconsciente coletivo e que tem, em uma determinada etapa de evolução das sociedades, realidade maior que o próprio “real”.

É, ao que me parece, o que está ocorrendo na Palestina. O real já não importa, o imaginário social é mais forte. Significa dizer que os beligerantes não se reconhecem como membros de uma única raça, já não são capazes de resolver os seus impasses pelo diálogo ou pela mediação de outrem, já não lhes importa matar ou morrer. O imaginário que cada parte criou sobre o outro é superior à própria inteligência humana, ou seja, à capacidade de encontrar soluções pacíficas para as suas desavenças. Aliás, se for encontrada uma solução pacífica a indústria da guerra vai à falência.

Conclusão: com um giro de 360 graus não se sai do mesmo lugar. 

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

Voltar

Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

Abrir arquivo

2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.

Abrir arquivo

MEDIEVO PORTUGUES: O REI COMO FONTE DE JUSTIÇA NAS CRÔNICAS DE FERNÃO LOPES

Nossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.

Abrir arquivo

Crônicas: Educação, Cultura e Sociedade

O livro ora apresentado é um apanhado de 104 crônicas, algumas de 1978 e a maioria escrita a partir de 1995 até a presente data. O tema Educação compõe-se de 56 crônicas, outras 16 são relatos descrevendo fábulas ou estórias oriundas da cultura italiana, e os emas Cultura e Sociedade compreendem, cada um, 16 crônicas.

Abrir arquivo

Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

Abrir arquivo

[2009] EDIFICANDO A NOSSA CIDADE EDUCADORA

Esse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.

Abrir arquivo

[1998] Até aqui o Laquicho vai bem: os causos de Liberato Leite de Farias

Ao refletir sobre a importância do contador de causos/narrador para a preservação da cultura, percebe-se que cada vez menos pessoas sabem como contar/narrar, com a devida competência, as experiências do cotidiano. Por quê? Para Walter Benjamin, as ações motivadoras das experiências humanas são as mais baixas e aterradoras possíveis em tempos de barbárie; as nossas experiências acabam parecendo pequenas ou insignificantes diante da miséria e da fragmentação humana, numa constatação que extrapola os espaços nacionais.

Abrir arquivo

[1991] O MOVIMENTO REIVINDICATÓRIO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL: 1978 - 1988

Momentos de grandes mobilizações têm teito do professorado de Mato do Sul a vanguarda do movimento sindicalista deste Estado. Este fato motivou a realização deste trabalho, que teve como proposta inicial analisar criticamente o movimento reivindicatóno do magistério de Mato Grosso do Sul, na perspectiva de revelar-lhe, tanto quanto possível, o perlil de luta, ao longo de sua palpitante trajetória em busca de melhorias salariais, estabilidade empregatícia e melhoria da qualidade do ensino.

Abrir arquivo

Contato

Informações de Contato

biasotto@biasotto.com.br