O silêncio da diplomacia brasileira

A formação de diplomata sempre foi árdua. É preciso ter um curso de graduação para concorrer a uma vaga no Instituto Rio Branco, que desde 1946, forma os diplomatas brasileiros. O cargo, portanto, não é preenchido por indicação política, mas por formação técnica. Nomeado pela presidência da República, somente o Ministro das Relações Exteriores, que é o responsável por estabelecer a linha de conduta do corpo diplomático e indicar à presidência as designações para preenchimento das vagas nas embaixadas brasileiras espalhadas pelo mundo. Dada a importância internacional que o Brasil assumiu nos últimos anos, o número de vagas no Instituto aumentou em 2006 de 32 para 105 e, em 2012, saltou para 400. Significa dizer que quanto maior a importância do país no concerto das nações, maior a necessidade do exercício da diplomacia.

Claro que deve haver uma estreita relação entre a Presidência da República e o Ministro das Relações Exteriores e entre este e os diplomatas, mas há que se considerar a existência de uma tradição mais do que sexagenária de os diplomatas brasileiros trabalharem discretamente.

Com o Ministro Celso Amorim, no governo Lula, nossa diplomacia distanciou-se um pouco dessa tradição. Era necessário. Nosso país deixou de ser terceiro-mundista para ingressar no clube das potências econômicas. Por essa razão, o Itamaraty obrigou-se a mediar algumas questões mais abertamente, especialmente nos complexos problemas do Haiti e do Irã.  

No governo Dilma, consolidada a nova posição internacional do Brasil, o Ministro Patriota voltou à prática tradicional, mas foi substituído após o episódio envolvendo o senador boliviano Roger Pinto Molina, conduzido ao Brasil em carro oficial, sem autorização do governo. Em seu lugar foi empossado Luiz Alberto Figueiredo Machado, diplomata de carreira que adotou também a velha maneira discreta de proceder.

Exercendo uma diplomacia mais agressiva, o governo Lula foi criticado, agora, paradoxalmente, as críticas são em virtude da discrição. Mas, vejamos:

No Haiti, após a convulsão social provocada pela guerra civil e pelo terremoto, o Brasil se faz presente desde 2004, arcando com ônus financeiro considerável nem sempre reembolsado pela ONU. O nosso Exército tem desempenhado papel relevante para soerguer o Haiti do caos. E se não estivéssemos lá, quem estaria? Os Estados Unidos? A China, ansiosa para botar um pé na América?

No caso da Bolívia, que estatizou uma empresa da Petrobrás, qual seria uma outra alternativa? Uma invasão com tropas militares?

E quando o governo paraguaio “exigiu” um considerável aumento pela energia comprada pelo Brasil da Itaipu? Deveríamos invadir novamente o Paraguai? Abrir as comportas e inundar a Argentina?

Tem ainda Cuba e Venezuela.  No caso cubano, as ações mais criticadas negativamente foram a vinda de médicos cubanos, no programa mais médicos, e o financiamento da construção do porto de Mariel. Quanto à falta de médicos, a verdade é que entidades médicas, ao longo dos anos, dificultaram a abertura de cursos de medicina no Brasil. No caso do porto, trata-se de uma visão futurista: com o alargamento do canal do Panamá, o comércio da América com o Oriente se intensificará e o Brasil será o grande beneficiário. Em relação à recente crise venezuelana, com manifestações massivas pró e contra o governo Maduro, a nossa embaixada atuou discreta, mas intensamente, contribuindo para evitar uma possível guerra civil que causaria comoção em toda a América.

E recentemente, que fazer em relação à crise Argentina? Se eventualmente o Brasil fizer algum empréstimo aos Hermanos à direita, voltará com o velho e surrado discurso, usado também em relação à Copa: como realizar a Copa, emprestar dinheiro a outrem e não aplicar em Saúde e Educação? A verdade é que o país tem que acudir a infinitas demandas com recursos finitos para que, no caso, somando diplomacia com a prática de cooperação com outros países (especialmente latinos e africanos), exerça o que se convencionou chamar de ‘soft power” (poder brando), ao invés do imperialismo intervencionista praticado outrora pelas principais potências mundiais. O rumo tomado é correto, mudanças nos relegariam novamente à subserviência ou ao imperialismo tradicional.  

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

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Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

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2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.

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MEDIEVO PORTUGUES: O REI COMO FONTE DE JUSTIÇA NAS CRÔNICAS DE FERNÃO LOPES

Nossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.

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Crônicas: Educação, Cultura e Sociedade

O livro ora apresentado é um apanhado de 104 crônicas, algumas de 1978 e a maioria escrita a partir de 1995 até a presente data. O tema Educação compõe-se de 56 crônicas, outras 16 são relatos descrevendo fábulas ou estórias oriundas da cultura italiana, e os emas Cultura e Sociedade compreendem, cada um, 16 crônicas.

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Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

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[2009] EDIFICANDO A NOSSA CIDADE EDUCADORA

Esse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.

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[1998] Até aqui o Laquicho vai bem: os causos de Liberato Leite de Farias

Ao refletir sobre a importância do contador de causos/narrador para a preservação da cultura, percebe-se que cada vez menos pessoas sabem como contar/narrar, com a devida competência, as experiências do cotidiano. Por quê? Para Walter Benjamin, as ações motivadoras das experiências humanas são as mais baixas e aterradoras possíveis em tempos de barbárie; as nossas experiências acabam parecendo pequenas ou insignificantes diante da miséria e da fragmentação humana, numa constatação que extrapola os espaços nacionais.

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[1991] O MOVIMENTO REIVINDICATÓRIO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL: 1978 - 1988

Momentos de grandes mobilizações têm teito do professorado de Mato do Sul a vanguarda do movimento sindicalista deste Estado. Este fato motivou a realização deste trabalho, que teve como proposta inicial analisar criticamente o movimento reivindicatóno do magistério de Mato Grosso do Sul, na perspectiva de revelar-lhe, tanto quanto possível, o perlil de luta, ao longo de sua palpitante trajetória em busca de melhorias salariais, estabilidade empregatícia e melhoria da qualidade do ensino.

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