A Copa do Medo

          Timidamente os brasileiros vamos dependurando nossas bandeiras na sacada, nossas bandeirolas nos carros, enfeitando as nossas ruas, mas nunca como antes. Principalmente nos grandes centros, o medo de termos os nossos bens apedrejados deixam-nos apreensivos. O time do “não vai ter copa” é menor, mas joga agressivamente no ataque, enquanto o time dos que torcem e vibram pela nossa seleção constituem-se em esmagadora maioria silenciosa. No que vai dar não sei, não faço ideia, no entanto, é direito de todos manifestarem-se, desde que, evidentemente, o meu direito não se sobreponha ao seu. Não acho justo que a Copa vire pretexto para algumas categorias aproveitarem-se do evento para paralisarem serviços essenciais, exigindo aumentos salariais e fazerem outras tantas reivindicações.

Os brasileiros temos o direito de nos divertir, seja com o Carnaval ou com a Copa. Se Ronaldo, o fenômeno (em ganhar dinheiro), sente vergonha da Copa, é porque talvez tenha incorporado o complexo de vira-latas, atribuído por Nelson Rodrigues ao povo brasileiro. Ou seria por seu flagrante oportunismo em apoiar um político de oposição para a presidência? Ronaldo não se envergonha entretanto de tirar substancioso proveito financeiro trabalhando ao lado de seu amigo Galvão, parceiro inclusive de golfe. Por que Ronaldo e tantos outros brasileiros que estão protestando contra a Copa não protestam, exigindo também para o país o padrão Golfe, ou da Fórmula I e do Tênis?

A Copa não é a nossa vilã, e não é o caso de retornamos à época do “Brasil, ame-o ou deixe-o”. É o momento de promovermos as transformações necessárias para fazermos de nosso país um local ainda melhor para vivermos. As legítimas manifestações de julho do ano passado são o termômetro para essas necessidades. Embora alguma coisa já tenha sido feita, apesar de timidamente, como a aprovação do Plano Nacional de Educação, ainda temos um longo caminhar.

A grande mudança, a transformação que necessitamos atende pelo nome de “reforma política”. Reforma costuma ser remendo, mas enfim, se houvesse a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte, com o objetivo único e exclusivo de estabelecer uma nova ordem na organização política de nosso país, dando ao povo uma representatividade mais efetiva, com certeza não haveriam tantas manifestações, tanto as justas quanto as eleitoreiras. O que defendo é uma Assembleia cujos membros voltem para as suas atividades tão logo se encerre o prazo para que as ditas reformas sejam promulgadas.

Em 2008 o governo Lula apresentou uma proposta de reforma política que foi para uma das numerosas gavetas do Congresso Nacional. Recentemente, quando das manifestações de julho, a presidente Dilma bateu na mesma tecla. Clamou pela organização de uma Assembleia Constituinte que promovesse tal reforma, mas foi uma voz ecoando no deserto, porque afetaria o status quo.

Bom, isso acima penso eu, mas todos têm o mesmo direito de pensar e agir, assim sendo, o ideal seria a realização de um plesbicito para ver se os brasileiros aprovamos realmente uma Constituinte exclusiva para a reforma política.

Já pensou o caro leitor se fossem extintas as doações para as campanhas políticas, se houvesse um financiamento público e transparente das campanhas, de forma que o cidadão honesto não precisasse ficar devendo obrigações aos seus financiadores? Se houvesse o fim das coligações proporcionais? Se as coalizões majoritárias fossem feitas entre partidos e não com políticos isoladamente? Se houvesse o estabelecimento do voto distrital? Se os partidos tivessem responsabilidade sobre os seus políticos (vereadores, deputados, senadores), assim, por exemplo, como os times de futebol têm responsabilidades sobre os seus torcedores?

Se os nossos representantes políticos fossem eleitos com regras constitucionais estabelecidas por uma Assembleia Nacional Constituinte convocada especificamente para esse fim, haveríamos de ter, com certeza, o aperfeiçoamento que se faz necessário para a nossa democracia. Então não haveria necessidade de tantas manifestações e não teríamos a Copa do medo, afinal e mesmo porque, se a Copa fosse tão ruim para os países sede, a Inglaterra não estaria pleiteando a sua realização em 2022, ao invés de ser no Qatar, por estar sob suspeita de corrupção.

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Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

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2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.

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MEDIEVO PORTUGUES: O REI COMO FONTE DE JUSTIÇA NAS CRÔNICAS DE FERNÃO LOPES

Nossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.

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Crônicas: Educação, Cultura e Sociedade

O livro ora apresentado é um apanhado de 104 crônicas, algumas de 1978 e a maioria escrita a partir de 1995 até a presente data. O tema Educação compõe-se de 56 crônicas, outras 16 são relatos descrevendo fábulas ou estórias oriundas da cultura italiana, e os emas Cultura e Sociedade compreendem, cada um, 16 crônicas.

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Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

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[2009] EDIFICANDO A NOSSA CIDADE EDUCADORA

Esse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.

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[1998] Até aqui o Laquicho vai bem: os causos de Liberato Leite de Farias

Ao refletir sobre a importância do contador de causos/narrador para a preservação da cultura, percebe-se que cada vez menos pessoas sabem como contar/narrar, com a devida competência, as experiências do cotidiano. Por quê? Para Walter Benjamin, as ações motivadoras das experiências humanas são as mais baixas e aterradoras possíveis em tempos de barbárie; as nossas experiências acabam parecendo pequenas ou insignificantes diante da miséria e da fragmentação humana, numa constatação que extrapola os espaços nacionais.

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[1991] O MOVIMENTO REIVINDICATÓRIO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL: 1978 - 1988

Momentos de grandes mobilizações têm teito do professorado de Mato do Sul a vanguarda do movimento sindicalista deste Estado. Este fato motivou a realização deste trabalho, que teve como proposta inicial analisar criticamente o movimento reivindicatóno do magistério de Mato Grosso do Sul, na perspectiva de revelar-lhe, tanto quanto possível, o perlil de luta, ao longo de sua palpitante trajetória em busca de melhorias salariais, estabilidade empregatícia e melhoria da qualidade do ensino.

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