Como educar em tempos de tantas vertentes?

No ano 400 d.C., Santo Agostinho resolveu mudar-se de Cartago para Roma por ouvir dizer que “lá os rapazes estudavam mais sossegadamente (...) em Cartago (...) a liberdade dos estudantes é vergonhosa e destemperada” (Cf. www.biasotto.com.br “Impropérios de Jovens Estudantes”).

Dois ou três anos atrás, uma amiga disse-me que precisava fazer um curso de informática porque, ora vejam, a sua netinha de cinco anos, perdendo a paciência para ensiná-la desabafou: “como você é burra vovó!”

Agora meu neto, do alto de seus 3 anos e 4 meses, propôs-se a ensinar-me jogar em seu tablete. Impaciente, segurou o meu dedo indicador para mostrar-me onde eu deveria apertar para acertar o joguinho com o qual ele brincava.

Essas passagens levaram-me a refletir sobre o futuro da educação. Não estivesse aposentado, poderia fazer uso de novas tecnologias e tornar-me um professor mais capaz do que fui para ensinar, mas, por outro lado, os alunos, mais jovens e muito mais acostumados às novas tecnologias, poderiam me surpreender com material ainda mais interessante do que eu prepararia. Então, adeus interesse pelas aulas. Nessas circunstâncias, eu haveria de viver como um escoteiro, sempre alerta, nesses tempos em que temos que nos adaptar ao “copiar/colar”, que dá aos trabalhos escolares o formato de uma colcha de retalhos.

Educar é complexo. A geração dos anos 60, que buscou libertar-se dos tabus da educação tradicional, não teve outra maneira a não ser liberar os seus filhos e esses os seus, que vivem com voluntariosa independência desde os primeiros passos. Lembro-me de Zé Régio: “vem por aqui, dizem-me alguns/ eu olho-os com olhos lassos (..) e cruzo os braços/ e nunca vou por aí”. Depois Drummond nos pergunta: “José, para onde?”.

Boa parte dos pais saem para o trabalho e deixam os pequenos dormindo. Quando voltam dormindo estão. Fins de semana tem futebol, uma alternativa é levar os filhos sobre os ombros, fanatizá-los desde tenra idade. Mas tem as creches, os Centros de Educação Infantil, então à moda de Esparta, melhor entregamos os nossos filhos ao Estado, ou às instituições particulares de ensino. Em Esparta, preparava-se soldados, atualmente precisamos formar cidadãos, mas como, se os professores quase nunca dispõe de recursos técnicos e capacitação necessária para lidar com as crianças? 

No que vai dar essa correria em que vivemos e que será da formação de nossas crianças? Uma coisa é certa, precisamos nos adaptar aos novos tempos. Para começar, vale lembrar que as crianças precisam de amor, amor materializado em carinho, em atenção e dedicação. As crianças desenvolvem-se brincando, antigamente com a construção de brinquedos com pauzinhos que se transformavam em cercas onde eram postos os animais, feitos com chuchus, batatinhas, mandioca. Os carros eram com carretéis de linha. O pega-pega, o esconde-esconde, eram brincados em plena rua, sem medo de carros ou malfeitores. Nas escolas, o ensino começava aos 7 anos e a disciplina era rígida, mesmo com a abolição da palmatória, ainda vigoravam os puxões de orelhas e reguadas na cabeça.

Felizmente a repressão foi extinta, mas para superar o jogo bruto pais e professores devem estar preparados. Normalmente, o que leva os adultos a darem umas palmadas nas crianças é a falta de capacidade para correspondermos às suas expectativas. 

Pais e professores precisam atualizar-se. Se a casa não oferecer espaço é preciso levar as crianças aos parques para utilizarem de forma sadia a impressionante energia que lhes propicia o desenvolvimento físico. Professores precisam de tempo, ao menos de um terço de seu expediente, para poderem capacitar-se. Quanto às escolas, estas precisam oferecer tempo integral. Quando se aprovou a Lei não permitindo mais que os menores de 16 anos trabalhassem, era para que eles estivessem nas escolas, não nas ruas. Tempo integral não se resume a um contra turno, mas a algo mais complexo, com planejamento que permita a formação, como já disse, de cidadãos, na verdadeira acepção desta palavra.

Enfim, na Universidade, o professor não precisa ficar pesquisando se o aluno copiou e colou, mas inventar novas técnicas para que o copiar colar seja feito de forma ética e com aproveitamento no aprendizado.

Acredito nos investimentos da Petrobrás com o pré-sal para revolucionar a educação.

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

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Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

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2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.

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MEDIEVO PORTUGUES: O REI COMO FONTE DE JUSTIÇA NAS CRÔNICAS DE FERNÃO LOPES

Nossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.

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Crônicas: Educação, Cultura e Sociedade

O livro ora apresentado é um apanhado de 104 crônicas, algumas de 1978 e a maioria escrita a partir de 1995 até a presente data. O tema Educação compõe-se de 56 crônicas, outras 16 são relatos descrevendo fábulas ou estórias oriundas da cultura italiana, e os emas Cultura e Sociedade compreendem, cada um, 16 crônicas.

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Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

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[2009] EDIFICANDO A NOSSA CIDADE EDUCADORA

Esse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.

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[1998] Até aqui o Laquicho vai bem: os causos de Liberato Leite de Farias

Ao refletir sobre a importância do contador de causos/narrador para a preservação da cultura, percebe-se que cada vez menos pessoas sabem como contar/narrar, com a devida competência, as experiências do cotidiano. Por quê? Para Walter Benjamin, as ações motivadoras das experiências humanas são as mais baixas e aterradoras possíveis em tempos de barbárie; as nossas experiências acabam parecendo pequenas ou insignificantes diante da miséria e da fragmentação humana, numa constatação que extrapola os espaços nacionais.

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[1991] O MOVIMENTO REIVINDICATÓRIO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL: 1978 - 1988

Momentos de grandes mobilizações têm teito do professorado de Mato do Sul a vanguarda do movimento sindicalista deste Estado. Este fato motivou a realização deste trabalho, que teve como proposta inicial analisar criticamente o movimento reivindicatóno do magistério de Mato Grosso do Sul, na perspectiva de revelar-lhe, tanto quanto possível, o perlil de luta, ao longo de sua palpitante trajetória em busca de melhorias salariais, estabilidade empregatícia e melhoria da qualidade do ensino.

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