Arranhando a superfície não se chega ao âmago

Ditados e provérbios além de serem uma síntese de sabedoria acumulada, podem ter sido inventados para o nosso consolo, resignação ou mesmo para justificar o injustificável. Tomo apenas um exemplo, por ser tema atual: “em time que está ganhando não se mexe”. Ora isso é uma das maiores asneiras que poderiam ter sido inventadas. Tomemos o exemplo do Corinthians: estava ganhando tudo e, de repente, não mais que de repente, o céu desaba sobre a equipe. Tite, o vitorioso, percebeu claramente que, em verdade, no time que está ganhando se tem que mexer e mexer certo. Então, esperto que é, Tite pediu o seu chapéu e saiu cheio de glória. Mano Meneses, ao contrário não compreendeu essa obviedade e pensou que a sua atuação passada fosse suficiente para continuar o círculo virtuoso que a equipe de Parque São Jorge vinha traçando. Resultado: o barco afundou e vai demorar um pouco para ser resgatado do fundo em que se encontra. Perdoe-me o leitor, mas só tomei o Corinthians como parâmetro por ser o caso da vez (a bola da vez, já que se trata de futebol), afinal crises já aconteceram com praticamente todos os grandes do futebol (exceto, parece-me, com o fluminense, filho de deuses) e eles se soergueram. Não será diferente com o Corinthians, mas o que desejo nessa crônica, não é falar da crise em si, todos estamos cansados de saber que alguns jogadores não estão mais dando certo, as derrotas se sucedem e alguns torcedores tomaram a medida radical de invadir o Centro de Treinamentos e tumultuaram de tal forma o ambiente que os jogadores estão querendo deixar o clube; o que desejo nessa crônica é dar a minha opinião sobre como o caso está sendo tratado pela mídia esportiva. Como sempre tem acontecido, as notícias ruins é que ganham espaço. Para mim um terrível equívoco que, aliás, contraria o espírito das cidades educadoras ao ensinarem que os bons exemplos é que devem ser divulgados, repetidos, transmitidos para o mundo todo. Tomemos algumas coisas boas no futebol que aconteceram concomitante à crise corintiana. No Flamengo, Hernane, fez quatro gols em uma partida, surpreendeu a todos os que gostam de futebol colocando-se entre os grandes jogadores dessa posição, mas a notícia é invasão de CT. O Santos revela uma nova safra de jogadores, faz dez gols em duas partidas, mas a notícia é invasão do CT. O Palmeiras, que desceu para a segunda divisão no ano passado, muda o time, faz contratações baratas, lança uma nova forma de pagar os seus atletas, pela produtividade, ganha as seis partidas que disputou, mas o assunto é CT invadido. Vamos admitir que isso faça parte de nossa mediocridade, da mediocridade da mídia internacional, que releva o belo, o saudável, o bom, para transmitir o torpe. Bela contribuição! Os malfeitores agradecem pela visibilidade que alcançam. Não bastasse a opção da mídia em divulgar o mau, a situação se agrava porque ela apenas arranha a superfície, não chega ao âmago da questão. Segundo a nossa mídia (e tenho acompanhado vários programas esportivos para essa análise) os invasores não são torcedores, são vândalos. As torcidas organizadas devem ser extintas. Os dirigentes esportivos não devem oferecer nenhum tipo de incentivo às organizadas. A polícia não prende. A Justiça não julga e se tiver alguém preso solta. É difícil contestar essas críticas. Mas por que os vândalos não são cidadãos? Por que as organizadas devem ser extintas? Por que a polícia não prende e a Justiça solta? Eis as questões. Os vândalos não são cidadãos porque a mesma mídia que hoje os execra foi quem lhes ensinou que é preciso ganhar. Quem impulsionou o neoliberalismo? “Na África toda manhã um leão acorda faminto e tem que correr para alimentar-se. Na África uma gazela toda manhã sabe que tem que correr muito para não ser comida pelo leão. Leão ou gazela, corra”, ou seja, vença. Não foi isso que essa geração que hoje arrebenta Centros de Treinamentos aprendeu? Quanto à polícia, temos ainda resquícios da ditadura, ela foi ensinada a bater, não a apaziguar e prender. Quanto à Justiça talvez sejam necessárias melhores escolas de Direito ou talvez, ainda mais razoável, precisamos de legisladores que estabeleçam Leis para que a Justiça possa agir. Enfim, as organizadas, a justiça, a polícia, a mídia, a Copa do Mundo, não são um mal. O mal está no mal gerenciamento (especialmente corrupção) e na má qualidade da análise.

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Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

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2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.

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MEDIEVO PORTUGUES: O REI COMO FONTE DE JUSTIÇA NAS CRÔNICAS DE FERNÃO LOPES

Nossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.

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Crônicas: Educação, Cultura e Sociedade

O livro ora apresentado é um apanhado de 104 crônicas, algumas de 1978 e a maioria escrita a partir de 1995 até a presente data. O tema Educação compõe-se de 56 crônicas, outras 16 são relatos descrevendo fábulas ou estórias oriundas da cultura italiana, e os emas Cultura e Sociedade compreendem, cada um, 16 crônicas.

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Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

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[2009] EDIFICANDO A NOSSA CIDADE EDUCADORA

Esse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.

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[1998] Até aqui o Laquicho vai bem: os causos de Liberato Leite de Farias

Ao refletir sobre a importância do contador de causos/narrador para a preservação da cultura, percebe-se que cada vez menos pessoas sabem como contar/narrar, com a devida competência, as experiências do cotidiano. Por quê? Para Walter Benjamin, as ações motivadoras das experiências humanas são as mais baixas e aterradoras possíveis em tempos de barbárie; as nossas experiências acabam parecendo pequenas ou insignificantes diante da miséria e da fragmentação humana, numa constatação que extrapola os espaços nacionais.

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[1991] O MOVIMENTO REIVINDICATÓRIO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL: 1978 - 1988

Momentos de grandes mobilizações têm teito do professorado de Mato do Sul a vanguarda do movimento sindicalista deste Estado. Este fato motivou a realização deste trabalho, que teve como proposta inicial analisar criticamente o movimento reivindicatóno do magistério de Mato Grosso do Sul, na perspectiva de revelar-lhe, tanto quanto possível, o perlil de luta, ao longo de sua palpitante trajetória em busca de melhorias salariais, estabilidade empregatícia e melhoria da qualidade do ensino.

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