Representatividade e manifestações populares

Em 2001, inspirado em artigo de Roberto Pompeu de Toledo, escrevi uma crônica intitulada “A Câmara e a Guerra Civil” (www.biasotto.com.br), afirmando que o legislativo em todos os níveis constituía-se no palco das grandes discussões e que, de certa forma, os debates travados em seu interior constituíam-se na forma civilizada de se substituir as escaramuças que ocorreriam nas ruas entre grupos antagônicos. A Câmara Municipal de Dourados era composta por 17 vereadores, sendo 8 da bancada situacionista, 8 da oposicionista e o presidente que também fazia oposição ao governo. A oposição contava com experientes políticos (Paulo Falcão, Bela Barros, Eduardo Marcondes, Junior Teixeira, Nelso Gabiatti, Cimatti, Mané Dourados, Sidnei Alves e o Dr. Domingos) que fiscalizavam milimetricamente os passos da administração e levavam à tribuna críticas veementes que eram rebatidas por uma bancada minoritária não tão coesa quanto a adversária, mas não menos atuante (Margarida Ghaiguer, Elias Ishi, José Silvestre, Walter Hora, Akira Oshiro, Ari Artuzi, Jorginho Dalzaker e eu). Não obstante o antagonismo radical não se chegava à irracionalidade, como na guerra civil. Alguns projetos, com os quais a oposição concordava, se não recebiam elogios, ao menos mereciam um discreto silêncio. Caso do projeto Cidade Universitária de Dourados em pleno desenvolvimento nessa época e, mais tarde o Projeto “Dourados: Cidade Educadora”. Àquela época situação e oposição tinham projetos distintos para a cidade. Os grandes debates perderam consistência. Não conheço em Dourados e em âmbito estadual nenhum grande projeto em discussão. Na esfera federal, onde os debates deveriam voltar-se para a construção de alternativas aos rumos do governo o que se vê é uma oposição mesquinha, preocupada com as olheiras da presidente e de sua escala em Portugal. Com tantos problemas sérios que os tempos contemporâneos apresentam, a oposição fazer de uma escala imprevista e de um jantar em restaurante português um estardalhaço é, definitivamente, não ter alternativa para contrapor-se ao atual governo. Pior que a grande imprensa brasileira também acha que essa questiúncula é a prioridade nacional. Claro que não sou contrário às investigações que a oposição promove nesse caso e nem de sua divulgação e esclarecimento pela imprensa. Também desejo saber se havia necessidade da escala em Portugal e se a presidente usou o seu cartão pessoal. Da mesma forma gostaria de saber se as diárias de 14 mil recebidas em Paris pelo ministro Joaquim Barbosa não cheiram a imoralidade. Bem, mas enfim, os parlamentares, não conseguindo mais representar os vários segmentos da sociedade, cederam espaço às ONGs e essas, por sua vez, tiveram a imagem desgastada por algumas mal intencionadas. Por isso o povo vai às ruas. Verdade é que a ausência de grandes debates não é privilégio nosso, atinge o Mundo. Em tempos de globalização são difíceis as particularidades. A democracia representativa já não satisfaz em parte alguma. Por isso já disse e reafirmo, não creio que as manifestações populares sejam direcionadas a essa ou aquela autoridade. Gradativamente as instituições representativas e as formadoras de opinião perderam credibilidade, tornaram-se incapazes de serem representativas, portanto requerem mudanças radicais e urgentes. Alguém duvida, por exemplo, de que haverá protestos antes e durante a Copa do Mundo? Claro que sim, como houve nas Olimpíadas da Inglaterra e haverá nas Olimpíadas de Inverno da Rússia. Dizer que “da Copa abrimos mão, queremos saúde e educação”, significa compreender meia verdade, ou seja, a Copa consome realmente uma monstruosidade de recursos, mas a verdade por inteiro no entanto é que apenas 1% da população mundial detém 40% da riqueza mundial. Significa dizer que a grande questão não está na Copa em si, está na retenção de muitos recursos nas mãos de poucos, porque se houvesse uma distribuição justa da riqueza, a monstruosidade de recursos que se gasta em uma Copa poderiam ser investidos também monstruosamente em saúde, educação e tantos outros bens públicos. E essa distribuição deveria ser feita justamente por quem perdeu a capacidade de representar a sociedade, os legisladores.

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Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

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2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.

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MEDIEVO PORTUGUES: O REI COMO FONTE DE JUSTIÇA NAS CRÔNICAS DE FERNÃO LOPES

Nossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.

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Crônicas: Educação, Cultura e Sociedade

O livro ora apresentado é um apanhado de 104 crônicas, algumas de 1978 e a maioria escrita a partir de 1995 até a presente data. O tema Educação compõe-se de 56 crônicas, outras 16 são relatos descrevendo fábulas ou estórias oriundas da cultura italiana, e os emas Cultura e Sociedade compreendem, cada um, 16 crônicas.

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Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

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[2009] EDIFICANDO A NOSSA CIDADE EDUCADORA

Esse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.

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[1998] Até aqui o Laquicho vai bem: os causos de Liberato Leite de Farias

Ao refletir sobre a importância do contador de causos/narrador para a preservação da cultura, percebe-se que cada vez menos pessoas sabem como contar/narrar, com a devida competência, as experiências do cotidiano. Por quê? Para Walter Benjamin, as ações motivadoras das experiências humanas são as mais baixas e aterradoras possíveis em tempos de barbárie; as nossas experiências acabam parecendo pequenas ou insignificantes diante da miséria e da fragmentação humana, numa constatação que extrapola os espaços nacionais.

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[1991] O MOVIMENTO REIVINDICATÓRIO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL: 1978 - 1988

Momentos de grandes mobilizações têm teito do professorado de Mato do Sul a vanguarda do movimento sindicalista deste Estado. Este fato motivou a realização deste trabalho, que teve como proposta inicial analisar criticamente o movimento reivindicatóno do magistério de Mato Grosso do Sul, na perspectiva de revelar-lhe, tanto quanto possível, o perlil de luta, ao longo de sua palpitante trajetória em busca de melhorias salariais, estabilidade empregatícia e melhoria da qualidade do ensino.

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