Mensagens eletrônicas e a mistificação dos acontecimentos

A classe dominante não consegue mistificar as demais sem mistificar-se a si própria. Cito de memória essa frase lapidar de Cornelius Castoriades (A Instituição Imaginária da Sociedade), para dialogar com o leitor a respeito desse conceito. Tomo como exemplos quatro e-mails, apenas quatro, de uma avalanche que chega todos os dias em nossos computadores. Trata-se de mensagens elaboradas pela elite dominante e repassadas por defensores de suas políticas ou por mentalidades ingênuas que pensam estar prestando valoroso serviço de informação aos seus amigos internautas, quando na verdade estão passando informações distorcidas de fatos realmente ocorridos, mas aos quais são acrescentadas novas personagens ou novas versões. No afã de convencer aos seus contatos (visando eleitores), os mensageiros acabam acreditando ser verdade o que os seus pares camuflaram. Os e-mails tomados como exemplo são de pessoas de classe média, mas que interiorizaram a ideologia dominante e a defendem como se usufruíssem das benesses que a elite desfruta. Espalham por exemplo que o ministro Joaquim Barbosa deveria ser o presidente do Brasil pelas suas firmes posições diante dos “mensaleiros”, num claro ataque ao PT. Enquanto os condenados são demonizados, calam-se a respeito do ministro que os condenou. Nada se fala, por exemplo, da firma aberta por ele nos Estados Unidos, só para comprar uma casa e ocultam também, que mesmo em férias, está na França recebendo a bagatela de 14 mil reais por diária. Nada de errado com o ministro Barbosa, isso está fora de cogitação. Errados são os que depositaram dinheiro na conta de José Genuíno. Vamos aos e-mails que, segundo entendo deixa ao leitor consciente os rastros de suas respectivas incoerências. Primeiro e-mail: sob o título estou me sentido melhor, aparece a imagem de um burro com os dizeres: “quando você estiver se sentido idiota, lembre-se, tem gente doando dinheiro para o site do Genuíno”. Obvio que o autor da mensagem deveria ter outra intenção, mas sem querer ele nos diz que todos somos ou podemos nos sentir idiotas por algum tempo e, em segundo lugar, ele nos leva a refletir sobre esse inusitado comportamento dos colabores. Serão mesmo idiotas os que fizeram os seus depósitos, ou são conhecedores da história de Genuíno e reconhecem nele um homem público respeitável? Segundo e-mail: com o título “golpe de mestre do Aécio” o autor da mensagem afirma que o senador Aécio Neves deu verdadeira aula de como fazer oposição e “encurralou a presidente Dilma” propondo uma lei fazendo do bolsa família um programa de estado, tornando-o obrigatório. O signatário do e-mail vai votar para o Aécio, óbvio, e fica claro que o candidato do PSDB aprova o programa, o que fica oculto é que os tucanos sempre disseram que o programa era bolsa esmola. Terceiro e-mail: Assinada por Maria Henriqueta, a mensagem pede a mobilização geral do povo brasileiro para solucionar 29 problemas. Inspirado nas mobilizações de 2013 o texto conclama o povo a ir para as ruas e lotar a Av. Paulista. A autora esqueceu-se apenas de que as maiores manifestações deram-se em São Paulo, cujo governador é tucano e no Rio de Janeiro governado pelo PMDB. Quarto e-mail: Afinal é só uma ponte. Na mensagem sob esse título é mostrada a foto da monumental ponte construída na China ligando o porto de Qingdao à ilha de Huangdao (nunca tinha ouvido falar nessas localidades, mas enfim...). No texto é feita a seguinte comparação. A ponte chinesa tem 42 km de extensão, custou R$ 2,4 bi, sendo R$ 57 mi o custo por Km e a sua construção demorou 4 anos. Enquanto isso, diz o texto, uma ponte a ser construída sobre o rio Guaíba tem a extensão de 2,9 km, o seu custo é de R$ 1,16 bi, ou seja R$ 400 mi por km e também será construída em 4 anos. Na China gastou-se, segundo o texto, 35 dias para construir cada km e no Brasil serão gastos 503 dias. Eis a contradição, querendo criticar o governo brasileiro o autor, um liberal, elogiou a China, um país comunista, com população superior a 1,3 bilhões de habitantes e que tem no governo o seu maior empregador. É preciso ver e enxergar. Ler nas linhas, nas entrelinhas, no texto e no contexto, sob pena de sermos levados a crer no ilusório.

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

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Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

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2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.

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MEDIEVO PORTUGUES: O REI COMO FONTE DE JUSTIÇA NAS CRÔNICAS DE FERNÃO LOPES

Nossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.

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Crônicas: Educação, Cultura e Sociedade

O livro ora apresentado é um apanhado de 104 crônicas, algumas de 1978 e a maioria escrita a partir de 1995 até a presente data. O tema Educação compõe-se de 56 crônicas, outras 16 são relatos descrevendo fábulas ou estórias oriundas da cultura italiana, e os emas Cultura e Sociedade compreendem, cada um, 16 crônicas.

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Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

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[2009] EDIFICANDO A NOSSA CIDADE EDUCADORA

Esse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.

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[1998] Até aqui o Laquicho vai bem: os causos de Liberato Leite de Farias

Ao refletir sobre a importância do contador de causos/narrador para a preservação da cultura, percebe-se que cada vez menos pessoas sabem como contar/narrar, com a devida competência, as experiências do cotidiano. Por quê? Para Walter Benjamin, as ações motivadoras das experiências humanas são as mais baixas e aterradoras possíveis em tempos de barbárie; as nossas experiências acabam parecendo pequenas ou insignificantes diante da miséria e da fragmentação humana, numa constatação que extrapola os espaços nacionais.

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[1991] O MOVIMENTO REIVINDICATÓRIO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL: 1978 - 1988

Momentos de grandes mobilizações têm teito do professorado de Mato do Sul a vanguarda do movimento sindicalista deste Estado. Este fato motivou a realização deste trabalho, que teve como proposta inicial analisar criticamente o movimento reivindicatóno do magistério de Mato Grosso do Sul, na perspectiva de revelar-lhe, tanto quanto possível, o perlil de luta, ao longo de sua palpitante trajetória em busca de melhorias salariais, estabilidade empregatícia e melhoria da qualidade do ensino.

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