Uma semana surpreendente

          Essa semana não é para ser esquecida. Em primeiro plano devemos colocar a visita do Papa, nem tanto pelas suas posições, mas pela sua simpatia. Até mesmo a presidente Dilma, de quem é difícil tirar um sorriso, pareceu-me alegre, dando a impressão de que ela e o papa eram amigos de infância que há tempos não se viam.

Em seu discurso de acolhida, a presidente não escondeu as manifestações – e nem poderia – mas foi feliz em dizer que a democracia exige sempre mais democracia e a inclusão exige sempre mais inclusão. No entanto, o mais importante é que a presidente apresentou uma proposta objetiva de parceria com o Vaticano para combater a pobreza no mundo inteiro, a exemplo do que o governo brasileiro tem feito em nosso país, na África e em alguns países da América Latina.

Se erradicarmos a pobreza, o Brasil será uma grande potência e se continuarmos com a política de boa vizinhança, o soft power, como está em moda dizer, não seremos uma potência imperialista, mas sim solidária, como nunca se viu na história. Difícil, mas não impossível.

A verdade é que a visita do Sumo Pontífice trouxe uma trégua para os políticos brasileiros acuados pelas manifestações que ora ocorrem. Ao menos mudou o foco da imprensa, pois as manifestações continuam. Algumas pacíficas, outras nem tanto, como a verificada no mesmo dia em que o papa chegou, quando cerca de 300 manifestantes confrontaram-se com a polícia carioca.

Essa onda de reivindicações começou com o movimento em prol do passe livre em São Paulo, mas foi ganhando nova dimensão, ampliando-se, e como bola de neve, avolumando-se a ponto de envolver toda a sociedade. Ateus e agnósticos chegaram a pedir Habeas Corpus preventivo para manifestarem-se no mesmo espaço ocupado pelos católicos, no que não foram atendidos. Na Avenida Paulista, na terça-feira, houve concomitantemente cinco manifestações, inclusive com o cruzamento de um grupo favorável e outro contrário à vinda de médicos estrangeiros para o Brasil.

Falando em médicos, ou eles assumiram que se incluem na classe trabalhadora ou apenas aproveitaram a onda de protestos para alargar os seus propósitos corporativistas. Basicamente, a categoria exime-se de qualquer culpa e reivindica: a validação de diplomas para a entrada de médicos estrangeiros; a rejeição do aumento em dois anos dos estudos para a formação profissional; o ato médico e, enfim, melhorias para o sistema de saúde brasileiro.

Não podemos descartar a vinda de médicos estrangeiros, mas concordo que o diploma deva ser validado por universidades brasileiras que, aliás, fazem isso corriqueiramente quando algum profissional estrangeiro solicita. Sou também contrário ao projeto de aumentar em dois anos a formação do médico, e mesmo de obrigar o recém-formado a atuar no SUS durante dois anos. Em relação ao Ato Médico, julgo absurda a pretensão de tornarem-se senhores da vida e da morte, impedindo outros profissionais de exercerem a maravilhosa arte de curar. Quanto a melhorias no sistema de saúde pública, entendo que existe uma contradição gritante, pois é difícil ter dentro do sistema capitalista a socialização da medicina. No entanto, embora difícil, no futuro essa socialização será possível, a exemplo dos países Nórdicos. Agora, que os médicos são também responsáveis pelos precários serviços da saúde pública, não tenho dúvidas. Eles precisam (re)lembrar o juramento que fizeram na formatura e, também da anamnese, ou seja, a conversa, a entrevista com o paciente que por si já é um bom remédio. Salários não justificam mau atendimento, se assim fosse, enfermeiros, professores e tantos outros profissionais não trabalhariam. E, convenhamos, dez mil iniciais é muito mais do que ganha um professor de Universidade Pública com doutorado.

Surpreendente também nesta semana foi o comportamento climático. Neve em Curitiba e em Paranhos, no Mato Grosso do Sul. Quem diria? Faz-me lembrar 1975, 1985, 2000. Mas esse ano não termina em 5 ou em zero. Estamos em 2013. Será que a natureza endoideceu  também?

Por fim, para completarmos, vamos falar da morte. Essa não tem nada de surpreendente, é nossa única certeza, mas perder Dominguinhos e Djalma Santos na mesma semana é de doer. Aquele, apadrinhado pelo rei do baião, Luís Gonzaga, este, o mais completo lateral direito que o Brasil, e talvez que o mundo já conheceu.

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

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Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

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2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.

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MEDIEVO PORTUGUES: O REI COMO FONTE DE JUSTIÇA NAS CRÔNICAS DE FERNÃO LOPES

Nossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.

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Crônicas: Educação, Cultura e Sociedade

O livro ora apresentado é um apanhado de 104 crônicas, algumas de 1978 e a maioria escrita a partir de 1995 até a presente data. O tema Educação compõe-se de 56 crônicas, outras 16 são relatos descrevendo fábulas ou estórias oriundas da cultura italiana, e os emas Cultura e Sociedade compreendem, cada um, 16 crônicas.

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Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

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[2009] EDIFICANDO A NOSSA CIDADE EDUCADORA

Esse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.

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Ao refletir sobre a importância do contador de causos/narrador para a preservação da cultura, percebe-se que cada vez menos pessoas sabem como contar/narrar, com a devida competência, as experiências do cotidiano. Por quê? Para Walter Benjamin, as ações motivadoras das experiências humanas são as mais baixas e aterradoras possíveis em tempos de barbárie; as nossas experiências acabam parecendo pequenas ou insignificantes diante da miséria e da fragmentação humana, numa constatação que extrapola os espaços nacionais.

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