A fragilização de nossas instituições republicanas

               Estamos passando por transformações a tal ponto inusitadas que as estruturas de estado existentes já não dão conta de acompanhá-las.  O povo se levanta, quer mudanças, mas ele próprio não consegue acompanhar toda a movimentação existente país afora. Quem lá em Natal sabe que a Câmara de Dourados foi ocupada por estudantes? E esses estudantes saberão por ventura que a Câmara de Porto Alegre também esteve ocupada?

E que fez a Justiça? Em Dourados negou pedido de reintegração de posse feito pelo presidente da Câmara, em Porto Alegre acatou pedido de igual teor e iniciativa, mas em seguida temendo que a ação da polícia colocasse em risco a integridade física dos ocupantes recuou e convocou as partes para o diálogo (no que foi bem sucedida).

Esse exemplo, aliado a tantas outras decisões contraditórias faz com que o Poder Judiciário perca credibilidade.   Interessante que justamente por querer imparcialidade da Justiça, os legisladores foram estabelecendo leis, tribunais e Ministérios Públicos que acabaram engessando o Poder Judiciário tornando a Justiça morosa e desacreditada.

Mas muito antes da Justiça, o Poder Executivo também já perdera o crédito junto à população. Então, além do poder das Câmaras Municipais para fiscalizar o Executivo, foram criados os Tribunais de Contas, gestados e gerados já sem nenhuma credibilidade, pois seus membros são nomeados ao bel prazer dos governantes em exercício.

Quanto ao Legislativo é o mais desacreditado dentre todos os poderes da República.  Embora haja numerosas exceções, os seus integrantes fazem por merecer a má fama. Hoje deputados e senadores, de modo geral, estão mais preocupados em conseguir emendas parlamentares (verbas para as suas cidades)  que propriamente exercer a função legislativa. Houve um divórcio entre o desejo do povo (entre as transformações) e o dos parlamentares, um afastamento que serve para esclarecer, mesmo que tardiamente, uma das razões pelas quais Artuzi foi eleito prefeito em Dourados. Ele aproximou-se do povo e o povo acreditou que essa aproximação fosse sincera.

A polícia, por sua vez, ao agir muitas vezes com truculência, ou  tendo muitos de seus membros metidos em trambiques, também anda desacreditada, e a Polícia Federal que até pouco tempo dava a impressão de que acabaria com a corrupção no Brasil, fez muito alvoroço para pouco resultado.

O chamado Quarto Poder, ou seja, a Mídia há muito perdeu sua auréola. Ligada ou comprometida com a classe dominante foi literalmente domesticada por ela. E para não dizer que não falei de futebol, basta assistirmos a quaisquer programas desportivos para observarmos a total ausência de um jornalismo crítico. Assim é também com o jornalismo político e econômico, sempre atrelado a algum interesse.

Bem, enfim, o povo, de quem deveria emanar todo o poder, está cansado porque as cidades tornaram-se grandes colmeias onde as abelhas operárias enfrentam às vezes até quatro horas diárias de ônibus para produzir o néctar para as abelhas, também operárias,  da educação, da saúde, da segurança, mas revoltaram-se ao perceber que mais trabalham para zangões preguiçosos.  Esse enxame de abelhas operárias separou-se um pouco da colmeia e revoou pelas cidades. A abelha rainha conhecendo a alma das operárias tentou chamá-las para uma grande mobilização por intermédio de uma Constituinte que fosse eleita exclusivamente para equacionar os problemas, (re)organizar  as estruturas da nação, mas todos os demais poderes foram rápidos em desarticular qualquer movimento que desse ao povo o direito de (re)formular as suas instituições.

Não chego ao extremo de considerar que haja falência múltipla dos órgãos das instituições nacionais, mas haverá muito barulho: políticos de oposição tentarão derrubar quem está no poder, categorias com voz gritarão alto para não perder privilégios, muita tinta será usada pelos jornais e revistas. No fim da história arrisco o palpite de que o  Poder Legislativo tentará colar com esparadrapo as fraturas que estão expostas  (leia-se reforma política). E, mais uma vez, muitas serão as reformas para que tudo fique exatamente como está, pois o sistema econômico que nos domina e oprime, esse ainda está longe de ser modificado.

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

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Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

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2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.

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MEDIEVO PORTUGUES: O REI COMO FONTE DE JUSTIÇA NAS CRÔNICAS DE FERNÃO LOPES

Nossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.

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Crônicas: Educação, Cultura e Sociedade

O livro ora apresentado é um apanhado de 104 crônicas, algumas de 1978 e a maioria escrita a partir de 1995 até a presente data. O tema Educação compõe-se de 56 crônicas, outras 16 são relatos descrevendo fábulas ou estórias oriundas da cultura italiana, e os emas Cultura e Sociedade compreendem, cada um, 16 crônicas.

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Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

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[2009] EDIFICANDO A NOSSA CIDADE EDUCADORA

Esse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.

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[1998] Até aqui o Laquicho vai bem: os causos de Liberato Leite de Farias

Ao refletir sobre a importância do contador de causos/narrador para a preservação da cultura, percebe-se que cada vez menos pessoas sabem como contar/narrar, com a devida competência, as experiências do cotidiano. Por quê? Para Walter Benjamin, as ações motivadoras das experiências humanas são as mais baixas e aterradoras possíveis em tempos de barbárie; as nossas experiências acabam parecendo pequenas ou insignificantes diante da miséria e da fragmentação humana, numa constatação que extrapola os espaços nacionais.

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[1991] O MOVIMENTO REIVINDICATÓRIO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL: 1978 - 1988

Momentos de grandes mobilizações têm teito do professorado de Mato do Sul a vanguarda do movimento sindicalista deste Estado. Este fato motivou a realização deste trabalho, que teve como proposta inicial analisar criticamente o movimento reivindicatóno do magistério de Mato Grosso do Sul, na perspectiva de revelar-lhe, tanto quanto possível, o perlil de luta, ao longo de sua palpitante trajetória em busca de melhorias salariais, estabilidade empregatícia e melhoria da qualidade do ensino.

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