A UEMS e o desprestígio dos governantes por Dourados

 

 A UEMS foi gerada pelo modelo pedrosianista de pensar o ensino universitário. O padrão adotado pelo Mato Grosso do Sul foi o mesmo existente em Mato Grosso, ou seja, uma Universidade Federal na capital do Estado (UFMT) e outra na segunda maior cidade (UEMT em Campo Grande). Com a divisão do Estado a Universidade Estadual de Mato Grosso (UEMT) foi federalizada transformando-se em  UFMS  e então, o Deputado Constituinte Walter Benedito Carneiro, apresentou uma emenda constitucional, aprovada por unanimidade, estabelecendo que quando fosse criada  uma universidade no novo estado, a sua sede seria em Dourados.

Marcelo Miranda, em seu mandato de mar/87 a mar/91, tentou implantar em Dourados uma tal de UILA (Universidade de Integração Latino Americana), o que não deixava de ser uma ideia avançada, mas que esbarrou em dois obstáculos que provocaram forte oposição ao projeto: àquela época 100 mil crianças em idade escolar estavam fora do ensino fundamental  por falta de vagas e o CEUD já estava realizando  fortes gestões, com  grande esforço, para transformar-se em UFGD.

Ao governar o Estado entre 1990/1995, Pedrossian conseguiu viabilizar o projeto de edificação da UEMS. Ele não desconhecia o projeto que tínhamos em Dourados para transformar o CEUD em UFGD e agiu com habilidade política, pois mesmo tendo uma segunda opção (um terreno próximo ao Douradão) o governador solicitou ao reitor da UFMS, Celso Pierezan, que fizesse uma reunião geral com os professores do CEUD para propor  que  autorizássemos a cedência de três hectares de espaço do campus do CEUD para a construção da UEMS. Na proposta estava embutida a promessa de que assim que a UEMS estivesse construída o governo do estado trabalharia para transferi-la ao governo federal e assim, junto com o CEUD teríamos a UFGD, realizando um sonho que se arrastava deste final dos anos de 1970. Concordamos por unanimidade.

A UEMS foi implantada, mas no governo de Wilson Barbosa Martins, sofreu uma crise profunda. Foi então que alunos, funcionários e professores abraçaram literalmente a UEMS o que motivou a sua consolidação, pois nessa luta a UEMS gerou a sua identidade. Logo em seguida assumiu o Governo Zeca, tendo como reitora a professora Leocádia Aglaê Petri Leme. Foi um período dourado para a UEMS que obteve do governador inclusive a autonomia financeira. No início da gestão da professora Leocádia, graças à consolidação da UEMS,  foi descartada a ideia de sua federalização  e em substituição a esse projeto  foi gerado um outro, juntamente com o CEUD/UFMS, o da “Cidade Universitária de Dourados” que obteve o apoio de 72 instituições douradenses.

Foi um período de grandes realizações em que Dourados passava a integrar um rol privilegiado de cidades que possuíam duas instituições públicas de ensino superior e, ainda, com a vantagem de estarem implantadas em um mesmo local e com um projeto de cooperação mútua que permitiu o crescimento das duas instituições.

Mas, enfim, se o CEUD, após de 25 anos de projetos e lutas conseguiu transformar-se em UFGD a partir de 2005, a UEMS, com o governo André Puccinelli, viveu os últimos anos com problemas financeiros sérios que prejudicaram o ensino, a pesquisa e a extensão universitária. Não bastasse tirar abruptamente a autonomia financeira da UEMS, submeteu-a uma crise de pão e água que obrigou os dois últimos reitores a viverem com pires na mão, tendo que pedir ao governador até mesmo a simples abertura de um concurso público.

Mas isso não é tudo. A abertura de um curso de Medicina no Campus da UEMS em Campo Grande é a maior afronta que se poderia fazer a Dourados. Afronta que traz consequências funestas para a nossa cidade e que os nossos políticos parecem ignorar ou engolir goela abaixo, sabe-se lá em virtude de quais interesses.

Não pense o leitor que particularmente eu seja contrário a abertura de cursos de Medicina, mas por que não abri-lo na própria sede da UEMS em Dourados?  Seria por que Dourados já tem um curso de Medicina que se abriria em Campo Grande? Ora Campo Grande já oferece dois cursos de Medicina, por que um terceiro?

Tenho acompanhado nesse mês algumas manifestações sobre essa possibilidade da abertura do curso de Medicina no campus da UEMS em Campo Grande e as suas nefastas conseqüências para Dourados (Coluna Malagueta, artigo da professora Zelia Nolasco Freire e a manifestação do Sindicato de professores da UEMS). Eu, modéstia à parte já havia escrito alguns artigos* em 2010 sobre o perigo político que representa a abertura do curso de Medicina na UEMS/Campo Grande. Sugeri inclusive que se mais esse estupro político (para usar um termo que lembra os usados pelo governador) for cometido contra Dourados, então que se crie a Universidade Estadual de Campo Grande e o curso de Medicina para ela. A UEMS/Dourados continuaria aguardando a sua vez, assim como a UNIGRAN também aguarda pela sua Medicina há vários anos. 

 

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

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Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
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Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

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