Quando a realidade parece ser um sonho (ou pesadelo)

Wilson Valentim Biasotto *

 

Quando a realidade parece ser um sonho (ou pesadelo)             13/10/04                               

 

 

Em toda a minha existência, que já não é tão curta, jamais tomara conhecimento de Arthur Schnitzler, no entanto ele repousava serenamente em minha biblioteca, sabe-se lá há quanto tempo, à minha espera, talvez para que eu o lesse no momento oportuno, na hora em que algo em minha vida justificasse a sua leitura.

Arthur Schnitzler? Um austríaco nascido em 1862 e falecido em 1931, médico formado em 1885 mas que abandonou a profissão para dedicar-se à literatura a partir de 1894.

Na verdade eu tinha um ilustre desconhecido (meu) em minha biblioteca, um desconhecido que acabou caindo-me às mãos de modo muito estranho: estava escolhendo algo para ler e resolvi pegar o volume mais fino de minha estante. Ora, logo eu que nunca escolhi livros pelo número de páginas!

A leitura do livro, “Breve romance de sonho”, não me custou mais que duas horas. Ora, não me custou... Leitura, especialmente a que flui fácil e é atraente não custa tempo, rende tempo, portanto, a leitura rendeu-me cerca de duas deliciosas horas de entretenimento e reflexão.

A trama do romance, relativamente simples, gira em torno de uma família burguesa do início do século 20: um médico, a esposa e uma filhinha.

Numa conversa familiar, dessas que se parecem com o jogo da verdade, a mulher relatou uma fantasia sexual que tivera e o marido contou-lhe uma outra. Tudo estaria bem e o caso encerrado se o marido não tivesse ficado enciumado e procurado, a partir de então, como vingança, trair de fato sua mulher.

Naquela noite, saiu para visitar um paciente e o encontrou morto. A filha do falecido, embora com casamento marcado lhe declara amor; o médico sai, caminha pela noite, encontra uma prostituta, acompanha-a até seu quarto mas sai apressado; visita um café onde encontra um amigo, ex-estudante que não dera conta de ser médico e virou pianista. Desse encontro nasceu uma aventura inusitada, o nosso personagem acabou entrando numa festa/orgia, onde homens mascarados e mulheres nuas formavam uma estranha sociedade secreta. Dá-se muito mal e acaba banido do local.

Na noite seguinte volta novamente para casa de madrugada e, da mesma forma que na noite anterior, encontra a mulher dormindo, mas desta feita um sono intranqüilo. Observa-a, chama-a, ela ri, gargalha e finalmente acorda.

A mulher conta ao marido o sonho que tivera, um sonho estranho em que ela casa-se com ele, tem uma maravilhosa lua de mel mas acaba vendo-se nua, na relva, possuída por homens estranhos.

Após ouvir a esposa o médico resolve contar-lhe o que lhe sucedera. Ela o ouve atentamente. Permanecem deitados, quietos, amanhece e começa um novo dia.

Estranho sonho. Estranha realidade. Sonho vivido ou realidade sonhada?

Penso em meu sonho/pesadelo de 3 de outubro e lembro-me de Kafka. Não, nem sonho vivido nem realidade sonhada, apenas e simplesmente uma situação inimaginável. Kafka! É isso.. O que vivi em 3 de outubro é simplesmente como um conto de Kafka, a metamorfose, não um romance de Schnitzler.

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

Voltar

Livros

As Fabulosas Histórias de Bepi Bipolar

Ser convidada para escrever o prefácio deste livro de literatura
foi realmente muito gratificante e a deferência a mim concedida
pelo amigo, historiador e escritor Wilson Valentin Biasotto foi
recebida com surpresa e alegria

Abrir arquivo

2010: O ANO QUE NÃO ACABOU PARA DOURADOS

A obra ora apresentada é uma coletânea de crônicas publicadas em diversos meios de comunicação no ano de 2010. Falam, sempre com elegância e fluidez, de nossas vidas, de acontecimentos e de possíveis eventos em nosso país, especialmente em nosso município.

Abrir arquivo

MEDIEVO PORTUGUES: O REI COMO FONTE DE JUSTIÇA NAS CRÔNICAS DE FERNÃO LOPES

Nossa preocupação, nesse trabalho, foi a de estudar o comportamento dos reis, no que concerne à aplicação da Justiça, baseados nas crônicas de Fernão Lopes.

Abrir arquivo

Crônicas: Educação, Cultura e Sociedade

O livro ora apresentado é um apanhado de 104 crônicas, algumas de 1978 e a maioria escrita a partir de 1995 até a presente data. O tema Educação compõe-se de 56 crônicas, outras 16 são relatos descrevendo fábulas ou estórias oriundas da cultura italiana, e os emas Cultura e Sociedade compreendem, cada um, 16 crônicas.

Abrir arquivo

Crônicas: globalização, neoliberalismo e política

Esta obra foi editada em 2011 pela Editora da UFGD e reune 99 crônicas escritas principalmente nos últimos quinze anos, versando sobre a globalização, o neoliberalismo e política

Abrir arquivo

[2009] EDIFICANDO A NOSSA CIDADE EDUCADORA

Esse trabalho tem três objetivos principais, cada qual contemplado em uma das três partes do livro, como se verá adiante. O primeiro é oferecer ao leitor algumas reflexões sobre temas que ocupam o nosso dia-a-dia; o segundo é divulgar os vinte princípios das Cidades Educadoras e, finalmente o terceiro, é tornar público o projeto que nos orienta na transformação de Dourados em uma Cidade Educadora e mostrar os primeiros passos para a operacionalização desse projeto.

Abrir arquivo

[1998] Até aqui o Laquicho vai bem: os causos de Liberato Leite de Farias

Ao refletir sobre a importância do contador de causos/narrador para a preservação da cultura, percebe-se que cada vez menos pessoas sabem como contar/narrar, com a devida competência, as experiências do cotidiano. Por quê? Para Walter Benjamin, as ações motivadoras das experiências humanas são as mais baixas e aterradoras possíveis em tempos de barbárie; as nossas experiências acabam parecendo pequenas ou insignificantes diante da miséria e da fragmentação humana, numa constatação que extrapola os espaços nacionais.

Abrir arquivo

[1991] O MOVIMENTO REIVINDICATÓRIO DO MAGISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DE MATO GROSSO DO SUL: 1978 - 1988

Momentos de grandes mobilizações têm teito do professorado de Mato do Sul a vanguarda do movimento sindicalista deste Estado. Este fato motivou a realização deste trabalho, que teve como proposta inicial analisar criticamente o movimento reivindicatóno do magistério de Mato Grosso do Sul, na perspectiva de revelar-lhe, tanto quanto possível, o perlil de luta, ao longo de sua palpitante trajetória em busca de melhorias salariais, estabilidade empregatícia e melhoria da qualidade do ensino.

Abrir arquivo

Contato

Informações de Contato

biasotto@biasotto.com.br