Os treze primeiros desafios para o segundo mandato de Tetila

 OS TREZE PRIMEIROS DESAFIOS PARA O SEGUNDO MANDATO DE TETILA

 

                                                                                                           12/10/04

 

Parece existir no imaginário brasileiro, e dos douradenses em especial, um estigma em relação a segundos mandatos, sejam eles obtidos por (re)eleição ou intercalados. Diz-se, por exemplo, que Fernando Henrique fez um bom primeiro mandado e o segundo ruim. No governo de Mato Grosso do Sul Wilson Barbosa Martins teria feito um bom primeiro mandado e um péssimo segundo. Da mesma forma, em Dourados, fala-se que Brás Mello fez uma boa administração em sua primeira gestão e teve um segundo mandato sofrível.

Essas afirmações seriam verdadeiras? Teriam mesmo, esses mencionados personagens, realizado administrações boas em seus primeiros mandatos e desaprendido a governar no segundo?

As coisas não são bem assim. Muita tinta haverá de ser gasta para se avaliar essas questões, colocando-se cada mandato e cada mandatário em seu respectivo contexto.

Não me proponho a essa tarefa no momento, no entanto, somente para deixar o debate em aberto, devo dizer que um ambiente social, administrativo ou mesmo afetivo não se repete. Logo, se admitirmos que os primeiros mandatos de nossos personagens foram bons e que eles mantiveram a mesma performance administrativa, teremos que admitir que as circunstâncias de seus segundos mandatos lhes foram adversas e isso teria atrapalhado a repetição do êxito.Da mesma forma poderíamos inferir que os nossos personagens não foram bons administradores e que seus primeiros mandatos somente foram bons em virtude das circunstâncias favoráveis.

 Isso posto, deixemos a questão em aberto e tratemos de refletir sobre os desafios que Tetila deverá enfrentar em seu segundo mandato e sobre algumas precauções que deve tomar.

 

1.             Continuar sendo um homem honesto, ético, trabalhador, sério, firme em suas decisões, firme no comando de sua equipe, sem no entanto perder a sua incomensurável paciência e a sua inesgotável tolerância;

 

2.             Montar uma equipe capaz, a começar pelo secretariado, tanto no que diz respeito ao conhecimento técnico como no que toca ao posicionamento político. Dourados dispõe de quadros dirigentes suficientemente preparados não só para ocupar pastas municipais como para ocupar secretarias estaduais ou mesmo ministérios;

 

3.             Organizar a sua equipe de governo de modo que haja uma soma de esforços que convirjam para a realização dos objetivos traçados. Governo tem que ter equipe e não um conjunto de indivíduos que tenham cada qual o seu rumo. Mesmo que se componha um governo com nomes brilhantes, eles jamais serão uma equipe se não acreditarem no projeto a ser desenvolvido, se não estiverem sintonizados, afinados e com vontade política para executarem os objetivos propostos pelo governo

 

4.             Sem perder de vista o Plano de governo, estabelecer as estratégias e as prioridades gerais da administração, bem como os objetivos específicos de cada uma das secretarias, de tal modo que todos tenham o norte, as metas de suas respectivas missões;

 

 

5.             Fazer avaliações freqüentes da administração para corrigir rotas, redefinir estratégias e prioridades e alimentar o ânimo para o trabalho e a fraternidade na convivência.

 

 

6.             Estimular o espírito crítico de sua equipe. Nada de secretários acacianos. Rodear-se de conselheiros bajuladores, ou omissos leva à ruína qualquer governo. Somente governos fracos e incapazes necessitam de bajulações a todo instante. Os elogios são bons e estimulantes mas devem ser feitos com muito mais parcimônia que as críticas.

 

7.             Criar mecanismos ainda mais eficazes que na primeira gestão para evitar quaisquer possibilidades de corrupção em seu governo. Nesse sentido seriam oportunas algumas medidas, tais como a criação de uma ouvidoria geral e a reestruturação da central de atendimento; a criação de uma central de compras na secretaria de fazenda e uma central de recebimento de mercadorias na secretaria de administração. Também pode se avançar ainda mais no que diz respeito aos processos de licitação, abrindo-se a sala de transparência e aperfeiçoando-se as licitações que passariam a ser feitas em tempo real via internet.

 

8.             Valorizar a experiência adquirida pelos portadores de cargos de confiança, mas procurar, tanto quanto possível, promover o  remanejamento de pessoal para que não haja acomodação e nem a ocorrência de vícios administrativos. Em outras palavras, mesmo que se empregue o mesmo pessoal em funções de confiança é necessário o remanejamento, para que a administração não envelheça, ao contrário, para que seja sempre dinâmica e atenta;

 

9.             Como ensina Carlos Matus, estabelecer a mediação entre o passado e o presente e entre o presente e o futuro. Lembrar nesse caso que, do passado faz parte também a sua primeira administração. Aprender com os erros do passado é uma boa lição que se pode buscar na história. Com os pés no presente, não tirar os olhos do futuro e não ter medo de ser ousado,

                   pensando sempre que é possível a construção de uma sociedade mais justa, mais fraterna, mais igualitária, onde se possa desfrutar de um meio ambiente saudável;

 

10.         Avançar ainda mais no estabelecimento de um governo popular, contribuindo para com a organização da sociedade de modo que não haja retrocessos em nenhum setor da atividade humana em relação a tudo o que já foi realizado. Nesse sentido o Orçamento Participativo, a Casa dos Conselhos, os Conselhos Gestores devem ser aprimorados e a relação institucional com sindicatos, associações, clubes de serviços e entidades de classe deve ser ampliada;

 

11.         Estabelecer uma articulação direta com o governo do estado e com o governo federal, abrindo espaços ainda maiores para o desenvolvimento de nosso município (e de nossa região). Manter-se articulado diretamente com a bancada federal petista e estabelecer uma agenda mínima para Dourados, com os deputados estaduais, federais e senadores de partidos opositores. Estabelecer com os diretórios municipal, regional e nacional do PT, um diálogo freqüente. Ter em mente que a fidelidade aos aliados é uma obrigação, mas exigir que a recíproca seja verdadeira. Nunca esquecer que o respeito à oposição é sagrado, mas lembrar-se sempre de que a oposição também tem compromissos com o povo e não deve sobrepor questões pessoais, mesquinhas e eleitoreiras aos interesses coletivos;

 

12.         Elevar a arrecadação sem aumentar tributos. Um governo popular tem obrigação de gastar com parcimônia, no entanto reduzir gastos é uma coisa, que já deve ou deveria ter sido feita, reduzir investimentos é outra coisa que não pode acontecer sob pena de termos uma atrofia administrativa. Portanto, em seu segundo mandato Tetila tem que encontrar urgentemente os caminhos para aprimorar a arrecadação de modo que o município possa continuar investindo em bons salários e no aprimoramento dos servidores públicos bem como em obras de infra-estrutura que permitam o desenvolvimento de Dourados.

 

13.         Nesse mesmo sentido, ao invés de se extinguir secretarias e cortar o número de funcionários é urgente, além da já mencionada elevação de arrecadação,  a (re)negociação da astronômica dívida do município, a revisão do caso Prodados e a revisão dos pagamentos da dívida junto ao INSS, mesmo que isso custe um rompimento com esse instituto. Só para se ter uma idéia, a dívida com o INSS era de 44 milhões no início de 2001. A atual administração recolhe em torno de 1,1 milhão/mensais e a dívida ao invés de ser amortizada já está na casa dos 66 milhões.

 

 

 

Ao vencer a eleição municipal Tetila já deu um passo largo no sentido de quebrar o tabu da (re)eleição. Tem tudo para fazer um segundo mandato ainda melhor que o primeiro:

1.      A cidade encontra-se bem melhor do que em 2001;

2.      A experiência administrativa acumulada é muito grande e benéfica;

3.      O governo estadual, que já deve ter se convencido de que Tetila é bom de administração e bom de voto deve aumentar ainda mais o apoio que vem dando;

4.      O relacionamento com o governo federal e em especial com Lula é muito bom e vai ser muito benéfico para Dourados;

5.      A conjuntura nacional é favorável. O governo Lula não só está fazendo com que a economia nacional retome o seu desenvolvimento mas está inserindo o Brasil como liderança no concerto das nações. Precisa ousar ainda mais.

6.      A conjuntura estadual também é boa. Zeca, tirou o estado de Mato Grosso do Sul do fundo do poço, retomou o desenvolvimento e demonstra em seu segundo mandato grande habilidade política e administrativa. Tem uma aproximação muito grande com o governo Lula. Tem que tomar muito cuidado ao compor o arco de aliança para 2006.

7.      A conjuntura municipal também é favorável. Tetila, já não é temido por ninguém, ao contrário é respeitado como homem público. Da mesma forma que Zeca e Lula, também retomou o desenvolvimento douradense e está caminhando para transformar Dourados em uma grande metrópole regional, no entanto não pode descuidar-se do desenvolvimento das cidades vizinhas para que não haja um esvaziamento demográfico na região e um “inchaço” demográfico em Dourados. Deve deixar os problemas do cotidiano para a sua equipe e cuidar das questões maiores, que envolvam articulações de âmbito estadual, nacional e mesmo internacional. Antes pecar por  ousadia do que por omissão. Nunca se esquecer de que cofre vazio não se enche com cortes em investimentos, mas com aumento da capacidade arrecadadora (sem aumentar tributos).

 

A reprodução do texto é permitida desde que citada a fonte.

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